Encontrei-te, por acaso,
num abrigo, “A cerca”, e nunca mais tive sossego enquanto não te
resgatei e te trouxe para casa comigo.
Eras uma cadelinha de pelagem
clara, porte elegante, com cerca de dez meses/um ano, arraçada a Husky. Tinhas
uns olhos lindos, de um azul, translúcido, precioso, que se fixaram em mim, não
como quem pede abrigo, mas como se já soubesses que serias parte da minha vida.
Vivemos sete anos juntas, Kayla.
Deste-me tanto amor, tanta ternura e, também, tanta gratidão! Mas, era eu,
Kayla querida, que te estava grata por tanto que recebia de ti!No dia 17 de Agosto, apareceu o primeiro sintoma da tua doença. Parecia um pequeno derrame num dos teus olhos, de um azul translúcido, precioso, mas era muito mais do que isso! E, começou uma dolorosa Via Sacra… Começou a tua luta titânica contra uma doença inesperada, terrível, implacável! Uma luta que acompanhei impotente, com o coração em farrapos.
Foste uma lutadora, uma guerreira infatigável, Kayla! Só depuseste as armas quando, no dia 4 de Outubro, o Dr. André, devagarinho, com a alma carregada de compaixão, te ajudou a adormecer no morno aconchego dos meus braços e a partir, serenamente, para lá de toda a lonjura.
Amei-te muito Kayla! Não sei se
te amei como devia, mas amei-te! E amo-te!
E, porque te amo, choro todos os
bocadinhos de tempo que tu, com os teus olhos de um azul translúcido, precioso,
fixos em mim, me pedias e que eu não te dei, porque não tinha tempo…Choro as brincadeiras que não brincámos juntas e que te teriam dado tanta alegria, porque tinha pressa…
Choro os abraços e afagos que me querias dar e eu não recebi, porque era tarde e estava atrasada... Para ir ali, para ir acolá…
O tempo não pára e, na pressa dos dias, eu, tantas vezes, não reparei na maravilhosa dádiva que era a infinita ternura que guardavas só para mim…
Depois, Kayla, subitamente adoeceste e eu nunca mais tive pressa. Tinha todo o tempo para ti! E, havia tempo para tudo! E, não houve, Kayla querida, não houve tempo para nada!!
Quando, à noite, o sono não vem e
a minha alma se despenha numa tristeza mais funda, imagino-te a correr linda,
liberta, feliz, por prados infinitos, inundados de luz… Uma luz azul,
translúcida, preciosa, como os teus olhos.
E eu, Kayla, enquanto a vida me
der tempo, sei que continuarei a correr atrás do tempo que, impiedoso, não te deu mais
tempo e corre mais do que eu, não abranda, não espera…
Com amor.
MC