sábado, 18 de outubro de 2014

De volta



Depois de algum tempo afastada, aqui estou de volta para o aconchego de todos os que, generosamente, me lêem!
Na verdade, senti necessidade de mudar, um pouco, o ritmo dos meus dias.
Alguns, na preguiça mole das férias, foram esquivos fantasmas de dias...
Mas, li muito. Enriqueci o meu tempo descobrindo novos autores e reencontrando clássicos, velhos amigos e companheiros queridos, da minha juventude.
Foi emocionante voltar a estar de mãos dadas com Hall Caine, Stephan Zweig, George Eliot, Dickens... E, foi delicioso ler Rilke, na sua carta a um jovem Poeta, na poderosa, magistral tradução de Vasco Graça Moura.
Vi filmes que ainda não tinha tido tempo para ver e, com alguns, confesso, senti que perdi tempo...
Viajei um pouco. Revi lugares que me tinham deixado saudades, conheci a Hungria que me encantou, e revisitei o Alentejo, uma paixão antiga.
E, assim, entre risadas e lágrimas, são elas o permanente tempero da vida, este tempo, que eu quis suspenso no tempo, passou, quase sem eu dar por ele a passar...

Neste intervalo, fiz anos e esse foi mais um dia bonito e emotivo!
E, já agora, depois de mais um aniversário, também eu gostaria de pedir ao tempo que me desse mais tempo para desatar os nós que me sufocam e para estreitar os laços, delicados, macios e doces, que são, afinal, a tessitura perfeita dos meus dias.
Gostaria de pedir ao tempo que me desse tempo para fazer tudo o que eu gostaria de fazer... E, ainda é tanto!!
Mas, penso que nunca ninguém, na vida, faz tudo o que quereria fazer...
Com a leitura, a escrita, o contacto com os outros, vou estreitando os tais laços, delicados, macios e doces, que suportam e estruturam os meus dias.

Rudyard Kipling disse que "somos todos ilhas, que gritam mentiras umas às outras, através de mares de desntendimentos"


Esta é com certeza, a infinita tragédia da Humanidade.

Mas, se metade de mim já é saudade e cansaço, a outra metade ainda é amor e canção. Por isso, nunca serei  ilha solitária, perdida em mares de mentiras e de desentendimento.

MC

Outono


Chove…

Hoje ,uma vez mais, o céu abriu-se …

Ferida funda, ferida aberta, de onde jorram, em torrente incontida, todas as lágrimas do mundo…
Um choro turvo, exausto, infecto.

Este foi um Outono antecipado, que se tem mantido tristonho, chuvoso, atravessado de trovoadas fortes, assustadoras.
Um Outono alagado, desgrenhado, decadente!

Onde está a estação lilás, das sonatas de Bach, das cores profundas, opulentas, os vermelhos, os amarelos, os castanhos de mil matizes, que são ouro, que são fogo, são volúpia e que os poetas cantam?
Onde estão os poentes de fogo, onde existem todos os sóis, enseadas de luz onde nos perdemos e onde nos encontramos?

Cansa-me este Outono de luz baça, suspensa, coada por nuvens cinzentas, pesadas,  tempo de desencantada decadência, fogo frio, o compasso de espera para o silêncio penumbroso, gelado, do Inverno...
Cansa-me a plangência chorosa deste Outono viúvo, antes de tempo, de um Verão que deveria ter sido uma explosão de ouro, de luz, chama ardente, esplendorosa, que não chegou a ser...


Anseio pelos dias de luz, de calor, de flores, de céu azul e de pássaros em alegre revoada, para, tranquila, recostada na maciez aveludada, voluptuosa do tempo, eu poder, enfim, descansar o meu cansaço…