terça-feira, 26 de novembro de 2013

Conferência ou comício?


Devo, decididamente, estar a ficar muito “entardecida” e fora de moda, com tantas "coisas" que, se calhar, compreendo ao contrário...

 Vem este desabafo a propósito da celebrada conferência "Em defesa da Constituição", que resvalou, despudoradamente, para um comício anti-Cavaco, tendo o PR sido violentamente vaiado e insultado. Não tenho particular simpatia pelo PR, mas, mandam as boas regras de convivência, que, na discordância, imperem a sensatez, a educação e o civismo! A sabedoria, enfim!
O Dr. Mário Soares, que tantas, mas tantas contas tem a dar ao País, e promotor do referido evento, desferiu um violento ataque ao PR e ao Governo, tendo mesmo dito que estes "se devem demitir enquanto podem ainda ir, para suas casa, pelo seu pé. Caso contrário, serão responsáveis por uma onda de violência que também os atingirá." A eles e a todos nós, digo eu!
O Dr. Mário Soares não percebe ou não quer perceber que a queda simultânea e violenta do PR e do Governo, é impensável, pois levaria a uma paralisação do país, a um estado de insurreição e a um tremendo desastre, a todos os níveis e, sobretudo, sendo a nossa economia tão débil, em termos económicos!
Posto isto, candidamente, pergunto eu: ao associar a permanência de Cavaco e de Passos Coelho nos seus cargos, a uma onda de violência e desacato, que ele, qual profeta, parece prever e, talvez, desejar, não está o velho, truculento, ressabiado Soares, a incitar, descaradamente, ele mesmo, à tal onda de violência que, hipocritamente, diz querer evitar?
Espanta ou, talvez não, que Soares não compreenda isto.

Estarei a ficar “entardecida” e talvez este país não seja para pessoas com a minha formação, mas penso que as atitudes de Soares são reprováveis, de uma espantosa irresponsabilidade, indignas de um Ex-Presidente da República! Soares tem-se revelado um velho amargo, que diz muitas tolices, é exagerado, violento nas palavras e, parece estar a tornar-se num incitador, inconsequente, tonto, à desordem, no país!
Uma erupção de violência, agora, seria absolutamente desastrosa! Ou não?

MC

sábado, 23 de novembro de 2013

Circo vs Ciência

Penso, com muita pena minha, que devo estar a ficar velha e há "coisas" que, sinceramente, não aceito nem compreendo.
 Na passada Quarta-feira, dia 21  (e nos dias seguintes, diga-se a verdade!), mais de metade dos noticiários dos diversos canais de televisão, foi preenchido com os mais acalorados elogios à Selecção Portuguesa de Futebol, pelo seu apuramento, rumo ao Brasil.
À Selecção não! A Ronaldo! Falou-se da grandiosidade de Ronaldo, da "magia" dos pés de Ronaldo, do hattrick, que não sei o que é, de Ronaldo, fizeram-se canções a Ronaldo, endeusou-se Ronaldo, cantaram-se exultantes, incendiadas loas a Ronaldo, o sublime herói, o pequeno deus do dia!
Os outros jogadores, foram remetidos à insignificância de meros adereços, numa estória onde o protagonista foi um deus menor...
Enfim, um entediante circo de vaidades e de tolice, para gáudio de tantos!

No entanto, esses mesmos canais não perderam mais de quatro ou cinco(?) minutos a noticiar o fantástico êxito de uma equipa de Medicina Molecular, em Lisboa, liderada por Miguel Prudêncio, que está já a desenvolver uma Vacina contra a Malária, doença terrível, que mata entre 655 mil a 1,2 milhões de pessoas, por ano.
Vacina, para a qual têm sido feitas várias tentativas, em vários  países do mundo, para encontrar, uma solução para esta calamidade, solução que o mundo procura há longos anos.
Esta equipa de jovens cientistas Portugueses trouxe uma luz de Esperança para travar este flagelo! E, que orgulho deveríamos, como país, ter nestes jovens!
Aliás, o projecto mereceu e justificou um segundo financiamento da Fundação Bill &Melinda Gates, pequena gota de água, diga-se, perante as estonteantes fortunas que os jogadores auferem, nomeadamente, o pequeno deus das coisas sem importância nenhuma!

Devo estar, de facto, a envelhecer, mas não sou, nunca fui, politicamente correcta e, na minha modesta opinião, este não deixa de ser o retrato triste e pobrezinho de um povo pequenino e imbecilizado!

Se antes, diziam que este era o país do Futebol, do Fado e de Fátima, o que é agora??

MC

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Um parecer - Ricardo Araújo Pereira -

Em 2015, ano das próximas eleições legislativas, muitos velhotes já não estarão cá para votar. Tem-se observado que uma coisa que os idosos fazem muito é falecer. Ora, gente defunta não penaliza o governo nas urnas.

Caro sr. primeiro-ministro,

O conjunto de medidas que me enviou para apreciação parece-me extraordinário. Confiscar as pensões dos idosos é muito inteligente. Em 2015, ano das próximas eleições legislativas, muitos velhotes já não estarão cá para votar. Tem-se observado que uma coisa que os idosos fazem muito é falecer. É uma espécie de passatempo, competindo em popularidade com o dominó. E, se lhes cortarmos na pensão, essa tendência agrava-se bastante. Ora, gente defunta não penaliza o governo nas urnas. Essa tem sido uma vantagem da democracia bastante descurada por vários governos, mas não pelo seu. Por outro lado, mesmo que cheguem vivos às eleições, há uma probabilidade forte de os velhotes não se lembrarem de quem lhes cortou o dinheiro da reforma.

O grande problema das sociedades modernas são os velhos. Trabalham pouco e gastam demais. Entregam-se a um consumismo desenfreado, sobretudo no que toca a drogas. São compradas na farmácia, mas não deixam de ser drogas. A culpa é da medicina, que lhes prolonga a vida muito para além da data da reforma. Chegam a passar dois e três anos repimpados a desfrutar das suas pensões. A esperança de vida destrói a nossa esperança numa boa vida, uma vez que o dinheiro gasto em pensões poderia estar a se aplicado onde realmente interessa, como os swaps, as PPP e o BPN.

Se me permite, gostaria de acrescentar algumas ideias para ajudar a minimizar o efeito negativo dos velhos na sociedade portuguesa:

1. Aumento da idade da reforma para os 85 anos. Os contestatários do costume dirão que se trata de uma barbaridade, e que acrescentar 20 anos à idade da reforma é muito. Perguntem aos próprios velhos. Estão sempre a queixar-se de que a vida passa a correr e que vinte anos não são nada. É verdade: 20 anos não são nada. Respeitemos a opinião dos idosos, pois é neles que está a sabedoria.

2. Exportação de velhos. O velho português é típico e pitoresco. Bem promovido, pode ter grande aceitação lá fora, quer para fazer pequenos trabalhos, quer apenas para enfeitar um alpendre, ou um jardim.

3. Convencer a artista Joana Vasconcelos a assinar 2.500 velhos e pô-los em exposição no MoMA, em Nova Iorque.

Creio que são propostas valiosas para o melhoramento da sociedade portuguesa, mantendo o espírito humanista que tem norteado as suas políticas.

Cordialmente,

Nicolau Maquiavel
 
NOTA: Eu preferia, no caso de exportação, ser promovida como enfeite de um jardim, num país quente e colorido! O enfeite poderá não ser, já, propriamente belo, mas pitoresco e inusitado, lá isso
 seria!!

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

2 cães, 4 gatos e a loucura do Governo, Vasco Pulido Valente, Público, 01/11/2013


 
Como costumam dizer os vigaristas da nossa política, sou insuspeito nesta matéria: não gosto de gatos, nem de cães. Mas também não gosto que o Estado se intrometa na minha vida ou na vida dos portugueses. Descobri esta semana com espanto que a sra. ministra da Agricultura resolveu legiferar sobre o número de animais que um cidadão pode ter em casa. "Animais de companhia", bem entendido, a quem já foi dedicado um "Código do Animal de Companhia" e agora uma lei muito "trabalhada" durante sete anos (não exagero) pela Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, a mesma - presumo - que há meses deixou vender carne de cavalo por carne de vaca. A loucura da administração pública está inteiramente à solta, perante a equanimidade e deleite deste liberalíssimo Governo.

O cidadão comum fica, como de costume, perplexo. Para começar, não sabe o que são, ou não são, "animais de companhia". Uma galinha, por exemplo, é um "animal de companhia"? E um peixe, um periquito e um canário? Se a Direcção-Geral de Veterinária se resolvesse dedicar à regulamentação do caruncho ou da pulga, do rato e do mosquito, que transmitem doenças, talvez se percebesse. Assim, não. Só lhe interessa o cão e o gato. Daqui em diante, a lei não autoriza mais do que dois cães por apartamento a cada residente em Portugal ou, em alternativa, quatro gatos. A minha inexperiência neste domínio não me permite justificar a preferência que os gatos receberam, tanto mais que o cheiro a gato é particularmente repugnante. Mas suponho que os técnicos se guiaram sobretudo pelo volume. Do elefante não autorizam mais do que uma pata, para os guardas-chuvas.

Embora excêntrico e risível, o episódio do "animal de companhia" merece comentário por duas razões. Em primeiro lugar, porque o Estado continua impenitente a invadir a privacidade do cidadão anónimo. Com dois propósitos principais: justificar a sua existência e criar a necessidade de mais funcionários (neste caso de inspectores das condições de vida do "animal de companhia", que os "companheiros" tratam mal). E, em segundo lugar, como em princípio uma política séria e relevante custa dinheiro e uma simples proibição aparentemente não custa, é mais fácil que o Governo aprove a proibição do que a política séria: a sra. Cristas com certeza que nem percebeu o que se passava nas catacumbas do seu ministério. E anda por aí Paulo Portas, com o seu ar mais solene, a pregar a reforma do Estado.

Vasco Pulido Valente, Público,  01/11/2013

Quem quererá, agora, falar com ele? Vasco Pulido Valente, Público, 25.10.2013


Para José Sócrates a classificação de quem o contraria é simples. O PSD é um conjunto de "pulhas" e de "filhos da mãe" (calculo que a expressão foi, por assim dizer, mais vernácula) e em geral "a Direita é hipócrita". Santana é um "bandalho". Teixeira dos Santos teve "uma atitude horrível connosco", ou seja, com ele. Schäuble, o ministro das Finanças da Alemanha, é um "estupor". E por aí fora. De resto, ele, Sócrates, quando falhou (e, na opinião dele, quase não falhou) não teve nunca a mais vaga responsabilidade ou culpa: a verdade está em que grupos de "pistoleiros", incluindo a Casa Civil do Presidente da República, tentaram sempre impedir que ele governasse e espalharam infames calúnias para "atacar" o seu impoluto "carácter". Apesar de primeiro-ministro, não passou de uma vítima.


Vale a pena repetir o que toda a gente já sabe? Vale, porque este "chefe" (como ele mesmo se descreve) e este acrisolado democrata (como ele se declara) saiu do assento etéreo onde subira, com um saco de ressentimento e ódio, que excede, e excede por muito, o de qualquer político desde que existe um regime representativo em Portugal. Ninguém, por exemplo, disse como ele que não queria voltar a "depender do favor do povo", a quem atribui uma larga parte das suas desventuras. Dar uma réstia de poder a semelhante criatura (visto que Deus não parece preparado para o ungir) seria inaugurar uma campanha de represálias contra Portugal em peso: contra a "aristocracia" do PS (que ele se gaba de ter "vencido"), contra a Direita, contra o velho Cavaco, hoje apático e diminuído, e principalmente contra o povo, que não votou por ele em 2009.

 
Ora Sócrates, protestando o seu desinteresse pela vida pública e as suas novas tendências para a filosofia, com a convicção de um adolescente analfabeto, só pensa em abrir o caminho para um memorável ajuste de contas. Uma entrevista justificatória na RTP, um programa de "opinião" também na RTP e, agora, o lançamento de um "livro", para inaugurar um estatuto de "intelectual", a que nem sequer faltou Mário Soares, Lula da Silva e uma assistência de "notáveis", seleccionados por convite. O supracitado "livro", absolutamente desnecessário, é de facto uma prova escolar (uma "tese" de mestrado), sem uma ideia original ou sombra de perspicácia, que assenta na larga citação e paráfrase de - vá lá, sejamos generosos - 30 livros, que se usam pelo Ocidente inteiro, e em algumas fantasias francesas (Sciences Po oblige). O extraordinário não é que Sócrates se leve a sério, o extraordinário é que o levem a sério. Mas claro que o "lançamento" não foi de um "livro".

Vasco Pulido Valente,  Público, 25.10.2013