Há dias assim…
Estou farta do Natal. Decididamente, estou farta do Natal!
Esmagam-me a caótica balbúrdia, o tremendo stress das
compras, a patética euforia que reveste esta quadra que devia ser festiva, sim,
mas tranquila e familiar. Uma época de afecto, de paz, de reencontros.
Irritam-me as deprimentes e infatigáveis canções de Natal, a
fustigarem-me os ouvidos e a alma, a toda a hora e em todo o lado.
Incomoda-me a caridade barata e hipócrita da época,
traduzida nas muitas missões, que apresentadores e actores fazem o frete de
promover, com frases feitas e sorrisos alvares e nos inúmeros jantares a
destilar misericórdia, que a televisão, afanosamente, regista, para memória
futura. Embora para o ano haja mais...
Revoltam-me os peditórios, quando sabemos que, os melhores
produtos angariados nunca chegam a quem, dizem, se destinam.
Detesto o desbragado consumismo, a tolice, a explosão de
falsa alegria solidária do Natal!
Afinal, se o Carnaval são três dias, o Natal é só um! Vá lá,
pronto, um dia e meio.
Sei que este meu desencantado desabafo é politicamente
incorrecto, mas hoje, particularmente, hoje, não estou numa de Pai Natal, de
anjinhos a esvoaçar, de trenós e renas a atravessarem o céu, de “Jingle bells”,
de bolas coloridas, douradas ou prateadas, a enfeitar pinheirinhos
recém-cortados, de centenas de perús e de cabritinhos mortos, estrelas
principais, em mesas de excessos, sacrificados à gula e ao gáudio de tantos.
Há dias assim!