terça-feira, 10 de maio de 2011

Peso Pesado - A menina gorda

Vi o programa “Peso Pesado” , na SIC, na noite da estreia e, para mim, foi o suficiente!

Este programa é, na minha opinião, chocante e grotesco. Espanta-me haver candidatos para este tipo de espectáculos e confrange-me ver aquelas pessoas, tão jovens algumas delas, expor, publicamente, a sua doença, os seus traumas, os seus dolorosos complexos, sujeitando-se à manipulação despudorada das suas emoções e à malévola exposição dos rolos imensos e flácidos de gordura que lhes deformam o corpo e lhes sufocam a alma num sofrimento atroz.

Foi arrepiante vê-los gordos, exaustos, rastejar na lama, tentar andar ligeiros, sem estarem preparados para esse esforço, um hercúleo esforço!
Vimo-los chorar quando falaram da sua obesidade, vimo-los agigantarem-se, aflitos, ofegantes, para vencer dificuldades, para eles, enormes, só com o objectivo de não serem expulsos de um programa de categoria muito duvidosa!

E, desgraçadamente, vimos dois concorrentes , em pânico, um deles, atrozmente obeso, serem maltratados por um “comando” que os fez deitar no chão, que lhes berrou como doido, que lhes atitou com baldes de água, que, em resumo, os humilhou, os exauriu e destratou, a troco de continuarem no jogo!

Foram tremendamente abusados mas, creio que, na sua simplicidade, no seu terror, nem se aperceberam do abuso de que estavam a ser vítimas!
Foi simplesmente vergonhoso, de uma baixeza e e uma maldade, sem nome e sem tamanho!
Tudo, mas tudo, tem um limite! Ali, naquela estreia, excederam-se todos os limites!


E não se diga, à laia de justificação, que todos sabiam para o que vinham! Não sabiam com certeza! Aqueles dois, por exemplo, decerto não sabiam o que iriam sofrer às mãos de um “comando” de trazer por casa, mas violento e abusador! E um canal de televisão que se preza, com o nível e as credenciais da SIC não devia enveredar por aí...

Ver a patologia da obesidade mórbida transformada em espectáculo é qualquer coisa de medonho, de revoltante que não devia sequer ser permitido!

Mas, enfim, o programa está no ar e vê quem quer!

A propósito de pesos pesados e para amenizar a aspereza do texto, aqui fica este poema imortalizado por João Villaret:


A menina gorda

Esta menina gorda, gorda, gorda,
Tem um pequenino coração sentimental.
Seu rosto é redondo, redondo, redondo;
Toda ela é redonda, redonda, redonda,
E os olhinhos estão lá no fundo a brilhar.

É menina e moça. Terá quinze anos?
Umas velhas amigas de sua mamãe
Dizem sempre que a encontram, num êxtase longo:
“Como esta menina está gorda, bonita!”
“Como esta menina está gorda, bonita!”
E ela ri de prazer. Seu rosto redondo
Esconde os olhinhos no fundo, a brilhar.

Às vezes no quarto,
Diante do espelho;
Ao ver-se tão gorda, tão gorda, tão gorda,
Ela pensa nas velhas amigas de sua mamãe
E também num rapaz
Que a olha sorrindo,
Quando toda manhã ela vai para a escola:
“– Ele gosta de mim… Ele gosta de mim.
Eu sou gorda, bonita…”
E os dedos gordinhos pegando nas tranças
Têm carícias ingénuas
Diante do espelho.

Rui Ribeiro Couto


MC

1 comentário:

Pentacúspide disse...

também vi o primeiro episódio desta porcaria e revoltou-me tremendamente. aquilo é como se dissessem: és gordo, não és humano. puseram-nos a rolar na lama, significando o quê: somos gordos, somos porcos. E admira-me mais que milhares de pessoas consumam essa merda.