Diz-se que as pessoas nascidas sob o signo do Sol são bonitas, talentosas, estuantes de encanto e de alegria. São pessoas vibrantes, amadas por multidões e que brilham intensamente, com luz própria, como a Estrela que os rege! A sua passagem por este mundo é, porém, fugaz! Talvez porque os caminhos tortuosos, poeirentos, sombrios que nos são dados percorrer não suportem a sua intensa vibração e a sua luminosidade! Esplendorosa!
A sua partida é, geralmente, súbita, inesperada e deixa, naqueles que os rodeiam, os amam e os admiram, um desolado vazio, um doloroso espanto, uma saudade aturdida, que o rasto cristalino da sua luz ameniza e consola.
Resplandecem, certamente, noutras paragens.
Lembro, naturalmente aqui, o Angélico que nos deixou ontem, o Carlos Paião, o Francisco Adam, o Feher, mas também todos os jovens bonitos e promissores cujos sonhos a morte interrompeu estupidamente, impiedosamente!
Algumas destas estrelas fugazes tornam-se mitos. Estou a lembrar-me de James Dean, por exemplo.
+ + + + + + + + + + + + + + + + +
BLUES FÚNEBRES
Que parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e ele não ladre mais,
que emudeça o piano e o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.
Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
Escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto – um laço no pescoço –
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu.
...
...
...
...
É hora de apagar estrelas – são molestas –
Guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
De despejar o mar, jogar fora as florestas,
Pois nada mais há de dar certo doravante.
W. H. Auden (1907-1973) em Poesia Alheia, 124 Poemas Traduzidos, tradução e organização de Nelson Archer, Editora Imago, 1998.
+ + + +
LISURA
Entras na morte,
como se entra em casa,
desvestindo a carne,
pondo teus chinelos
e pijama velho.
Entras na morte,
como alguém que parte
para uma viagem:
não se sabe o norte
mas começa agora.
Entras na morte,
sem escuros,
sem punhais ocultos
sob o teu orgulho.
Entras na morte,
limpo
de cuidados breves;
como alguém que dorme
na varanda enorme,
entras na morte.
Carlos Nejar , em Obra Poética, Nova Fronteira, 1980.
3 comentários:
Lindíssimo..adorei..uma homenagem muito bonita aos que os Deuses reclamam precocemente para o Olimpo..
Porque, estes jovens bonitos, talentosos, cheios de luz e que esbanjam charme, são os que eles amam mais! Tanto, que t~em pressa de os ter a seu lado, no Olimpo, como dizes!
Obrigada, querida, por me leres e pelas tuas palavras.
Nestes momentos em que a morte é jovem, fica-nos o espanto de ser tão cedo. Para nós. A eternidade não tem tempo, não tem idade. Quem sabe, os que partiram tão cedo não estariam connosco apenas para completarem o seu "tempo"! Diante da Morte jovem, pensamos sempre de acordo com a nossa noção de tempo, e nunca no não-tempo. A Deus, cabe apenas abraçá-los, dar-lhes colo - o colo da bondade e da perfeição. Nós, como não compreendemos o mistério, ficamos aturdidos e sem saber o que fazer.
A Morte é uma oculta camada da Vida. Quando se torna visível pela sua acção, surpreende-nos sempre.
E não há palavras. As suas são justa homenagem, e inquietação! Bem haja, por elas e pelo seu significado.
Enviar um comentário