A chuva é benção, mas também pode ser praga...
O tempo continua chuvoso e escuro, tão húmido e doentio que até a alma perde a graça, mirra e cria bolor... Enfim, um tempo feio e descolorido, como este país à beira do abismo!
Céus, como gosto da alegria radiosa do Sol que polvilha de luz o meu coração, invade, morno e aconchegante, todos os recantos de mim e cobre de ouro a rua, as casas, as árvores, a lama...
Os dias sucedem-se, na sua marcha inexorável, dissolvidos na chuva gelada que cai, ora mansa, ora aos borbotões e na bruma pesada e opaca que envolve a cidade.
A chuva é benção, mas também pode ser praga...
Outro dia molhado, baço, cinzento e triste!
E, eu, perdida na tristeza deste horizonte brumoso, sem forma e sem cor, já não sei como se rabisca o Sol.. já me esqueci com que cor se pinta o Sol que a chuva apagou...
E, pérolas líquidas, de uma chuva que não pára nunca, escorrem nas ruas e deslizam frias e translúcidas, sobre as casas, as árvores e sobre o meu coração cansado...
A chuva é benção, mas também pode ser praga...
MC
2 comentários:
A imagem acima, as suas cores terra/ laranja não me fazem levar a sério esta chuva. E imagino a chuva quente quando cai em África. Esta, húmida, triste, azul e fria, no entanto, também há de passar!
Belíssima, a imagem!
Lindíssimo, o texto!
Quer o Sol quer a Chuva possuem os dois lados da vida - o bom e o menos bom. A chuva tanto engorda a uva, se é miudinha, como destrói a vinha, se é violenta; o sol amadurece os frutos e desenvolve a vida, seca tudo, todavia se se abate em excesso sobre a vida.
A chuva de que fala não é a chuva, é o estado de espírito que resulta das condições em que se vive, hoje: «Enfim, um tempo feio e descolorido, como este país à beira do abismo!». E estamos entendidos! Mas todo o abismo promete um infinito, basta darmo-nos conta do seu nada para o não escolhermos, e caminharmos por outros caminhos.
Mas o Sol de que fala é um Sol cheio de poesia e de esperança na vida - o que suaviza o cansaço daquela chuva:«Céus, como gosto da alegria radiosa do Sol que polvilha de luz o meu coração, invade, morno e aconchegante, todos os recantos de mim e cobre de ouro a rua, as casas, as árvores, a lama...». Ora, aí está a solução - a esperança aconchegante, em que o sol e a chuva sõa absolutamente indispensáveis e partes indissociáveis da solução para o cansaço destes dias de chuva com o sol a espreitar, de quando em quando. O mais é nada!
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