Para José Sócrates a classificação de quem o contraria é
simples. O PSD é um conjunto de "pulhas" e de "filhos da
mãe" (calculo que a expressão foi, por assim dizer, mais vernácula) e em
geral "a Direita é hipócrita". Santana é um "bandalho".
Teixeira dos Santos teve "uma atitude horrível connosco", ou seja,
com ele. Schäuble, o ministro das Finanças da Alemanha, é um
"estupor". E por aí fora. De resto, ele, Sócrates, quando falhou (e,
na opinião dele, quase não falhou) não teve nunca a mais vaga responsabilidade
ou culpa: a verdade está em que grupos de "pistoleiros", incluindo a
Casa Civil do Presidente da República, tentaram sempre impedir que ele
governasse e espalharam infames calúnias para "atacar" o seu impoluto
"carácter". Apesar de primeiro-ministro, não passou de uma vítima.
Vale a pena repetir o que toda a gente já sabe? Vale, porque
este "chefe" (como ele mesmo se descreve) e este acrisolado democrata
(como ele se declara) saiu do assento etéreo onde subira, com um saco de
ressentimento e ódio, que excede, e excede por muito, o de qualquer político
desde que existe um regime representativo em Portugal. Ninguém, por exemplo,
disse como ele que não queria voltar a "depender do favor do povo", a
quem atribui uma larga parte das suas desventuras. Dar uma réstia de poder a
semelhante criatura (visto que Deus não parece preparado para o ungir) seria
inaugurar uma campanha de represálias contra Portugal em peso: contra a
"aristocracia" do PS (que ele se gaba de ter "vencido"),
contra a Direita, contra o velho Cavaco, hoje apático e diminuído, e
principalmente contra o povo, que não votou por ele em 2009.
Ora Sócrates, protestando o seu desinteresse pela vida
pública e as suas novas tendências para a filosofia, com a convicção de um
adolescente analfabeto, só pensa em abrir o caminho para um memorável ajuste de
contas. Uma entrevista justificatória na RTP, um programa de "opinião"
também na RTP e, agora, o lançamento de um "livro", para inaugurar um
estatuto de "intelectual", a que nem sequer faltou Mário Soares, Lula
da Silva e uma assistência de "notáveis", seleccionados por convite.
O supracitado "livro", absolutamente desnecessário, é de facto uma
prova escolar (uma "tese" de mestrado), sem uma ideia original ou
sombra de perspicácia, que assenta na larga citação e paráfrase de - vá lá,
sejamos generosos - 30 livros, que se usam pelo Ocidente inteiro, e em algumas
fantasias francesas (Sciences Po oblige). O extraordinário não é que Sócrates
se leve a sério, o extraordinário é que o levem a sério. Mas claro que o
"lançamento" não foi de um "livro".
Vasco Pulido Valente,
Público, 25.10.2013
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