quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

É a Hora!

Esta noite não sonhei com Brügel.
Sonhei, prosaicamente, com a campanha de Manuel Alegre, o poeta pipilante, aedo ido, do PS!
No palco de todas as vaidades, que é o de todas as campanhas, fervilhava um cadinho estranho de sensibilidades, ditas de esquerda, mas tão diferentes e onde, num desnorte, entalado entre a ânsia de poder de uns, a truculenta incompetência de todos, a ambição de um outro, a utopia de uns tantos, elogiava-se Manuel Alegre, político já sem chama e sem talento, poeta cansado, sem rima e sem tom!
Não posso dizer que este sonho tivesse sido um pesadelo, mas submergiu-me num mar alteroso de espanto, de dúvidas, de questões sem resposta!

Bagatelas...

Aflitivo é o mar sulcado por feixes de vergonhas, de corrupção e de misérias que traduz a actual situação política, económica e social de Portugal!
Este é o pais decadente e à beira da falência, que já nem sei se é nosso, do qual já nem não sei se gosto e se respeito, na medida em que, quem me governa não me protege e não me respeita!
E assim, este povo simples e manso vai esbracejando, para sobreviver, num mar amargo de revolta, de descrença e de desconfiança!

A palavra MAR, trouxe até mim, numa onda de luz, Fernando Pessoa, o Poeta visionário! Na verdade, quando leio a Mensagem, especialmente, o último poema, “Nevoeiro”, que aqui transcrevo, acredito que, num arranco de alma, o Poeta “viu”, claramente vistas, e sentiu, dolorosamente sentidas, a tristeza, a decadência e a miséria deste Portugal de hoje!

É a Hora!

NEVOEIRO


Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

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