E a incandescência vibrante daquelas árvores, a desfazerem-se, esplendorosas, em flor, inundou o meu dia sombrio, de luz, de cor, de encantamento...
África foi o meu berço, foi a minha escola, foi o meu primeiro amor! E eu, eu sou um pedacinho de África!
Eu sou a
acácia rubra, provocante e atrevida; sou a raiz forte, funda, tentacular do
embondeiro; eu sou o a terra ocre, suada, sangrada, sofrida; eu sou o sol
infatigável, ardente, voluptuoso.
Eu sou a
árvore nua, espectral,como mãos descarnadas erguidas, para o céu, numa prece
nunca atendida; eu sou a vegetação luxuriante, num verde de mil matizes, onde o
cacimbo escorre, límpido e manso, como lágrimas de reconciliação; eu sou o
capim ressequido, descorado, frágil.
Eu sou o
flamingo cor-de-rosa, toque de delicado romantismo, no mangal; eu sou o pássaro
de mil cores, que corta o espaço numa
vibração de alegria e plenitude; eu sou o animal selvagem, senhor absoluto de
uma terra, que é sua.
Eu sou o
diamante, o minério, a cana-de-açúcar, o algodão, o café que se oferecem,
fartos, num esbanjanmento de fidalguia abastada, eu sou o cantar monocórdico
das cigarras; eu sou o pequeno pirilampo, delicado ponto de luz, perdido no
escuro, profundo e denso, de uma terra adormecida.
Eu sou a
baía de água azul, langorosa e morna,
como regaço de mãe; eu sou a areia branda, dourada e doce, como carícia de
noivo; eu sou o mar, essa força genesíaca, grandiosa, lustral.
Eu sou a
palmeira esguia, ondulante, lânguida, que o vento agita, lascivo e amoroso, com
requintes de amante; eu sou o cheiro consolado da terra, depois da chuva,
benção divina que fecunda e cria; eu sou a trovoada violenta, repentina, que
atroa os ares e desperta, malévola, os velhos medos de infância.
Eu sou o
frenesim sensual, inquietante, indomável, das batucadas que, súbitas, irrompem
no ar, em frémitos de paixão e de luxúria.
Eu sou o
poente breve, mas intenso, clarões fortes, sanguinolentos, como lagos de amor,
de ciúme, de traição.
Eu sou
uma centelha viva de África!
Em mim,
na minha memória, nos meus sentidos, nas minhas veias, perdura, bela e intacta,
essa África exuberante e misteriosa, como parte integrante de mim, como uma
marca de fogo, indelével.
Presença Africana
E apesar de tudo ,
Ainda sou a mesma !
Livre
e esguia ,
filha eterna de
quanta rebeldia
me
sagrou.
Mãe-África!
Mãe-África!
a Irmã-Mulher
de
A dos coqueiros ,
decabeleiras verdes
ecorpos arrojados
sobre o azul ...
A do dendém
Nascendo dosbraços das palmeiras ...
de
e
A do dendém
Nascendo dos
A do sol bom ,
mordendo
ochão das Ingombotas...
A dasacácias rubras,
Salpicando desangue as avenidas ,
longas e floridas...
o
A das
Salpicando de
longas e floridas...
A do
suados e confusos,
(
de barriga inchada e olhos fundos ...
de
e
a
a
E eu revendo ainda , e sempre ,
nela,
aquela
Longa história inconsequente...
aquela
dos cólios baloiçando,
ao
ALDA LARA
Benguela 1953
MC
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