terça-feira, 29 de julho de 2008

Como é possível ...?

Na semana passada, fui, com a minha filha, visitar "a Cerca", um abrigo para animais abandonados, especialmente, cães e gatos, na Póvoa do Varzim.
Neste abrigo,os animais recolhidos ou para lá levados, por quem os encontra, são, de imediato, observados pelo veterinário, ficando uns dias de quarentena, são tratados, quando necessário, alimentados e recebem todo o acompanhamento possível!
Esta Associação vive, essencialmente, das quotas dos seus sócios e dos donativos de pessoas e entidades, sensíveis à causa. E, é um oásis de conforto e amparo, no mundo medonho, sem luz e gelado dos animais que nunca tiveram um lar e dos que,rejeitados, perderam tudo e vão morrendo, dia a dia, de saudade e de mágoa!
Nesse dia, confesso, fiquei de rastos, muito triste e revoltada!
Como é possível, tantos cães, velhos e doentes, escorraçados; tantos cães abandonados e em situação de risco, nas matas, nas redondezas do aeroporto e, essencialmente, nas auto estradas, para , no auge da desorientação e aflição, morrerem, mais rapidamente, atropelados por carros a alta velocidade?
Como é possível, tantos animais maltratados, com marcas enormes e horrendas, de queimaduras, de pancadas e de pontapés?
Como é possível tanta crueldade, tanta desumanidade para com animais vivos e indefesos, que nada pedem e dão tudo o que de melhor têm: amor, lealdade, ternura, companheirismo e uma imensa alegria pela presença do dono, por um afago, mesmo distraído, por um biscoito?
Como é possível, espancar uma cadela husky, até ao ponto de lhe cegarem um olho, para lhe roubarem as crias, com certeza, para as venderem por bom preço?
Penso que o amor de mãe, sendo o mais nobre, é talvez, de todos, o mais cruel! Na verdade, em caso de perigo, esse amor imenso leva a tudo, até a matar, sem dó, nem piedade, para proteger os filhos! Também ela, como uma mãe extremosa, bateu-se com a valentia, a força e a galhardia de um amor em fúria mas, frágil e enfraquecida pelo parto, só conseguiu salvar uma cria, lindíssima e perfeita, que a segue, como uma sombra, olha, desconfiada, para todos e não se aproxima de ninguém!
A mãe é uma cadelinha meiga, carente e agradecida, que ainda mantém uma doce confiança no ser humano! Apesar de tanto sofrimento, apesar de tanta perda!
Quem, no entanto, quiser adoptar uma delas, terá, forçosamente, de levar as duas! São, irremediavelmente, inseparáveis!
Como é possível, querer abater a tiro uma cadela jovem, abandonada, esquelética e tão roída de fome, que roubou um frango de um galinheiro mal amanhado?
Como é possível, manter um cão tanto tempo preso a uma corrente que, mesmo agora, já liberto do suplício da corda, da fome, da sede e da indiferença, ainda tem de estar
preso à corrente, porque não sabe andar à solta? Parece mentira mas, desgraçadamente, não é!
Como é possivel, bater tanto a um animal, até lhe deformar terrivelmente uma das patas dianteiras e deixar-lhe, no corpo pequeno e magro, marcas indeléveis de pauladas violentas?
Como é possível, atirar para o contentor do lixo cães doentes, cães velhos, crias recém-nascidas ou, cães, simplesmente, indesejáveis, na nefanda esperança de, a coberto da noite, os homens da recolha, não repararem e lançarem-nos para o carro, onde são desfeitos pela máquina trituradora?
Poucos dias antes da nossa visita, tinha sido salvo, dessa morte infame e horrorosa, um cão velho e cansado que alguém ouviu ganir, com dores!
Não tenho vergonha de dizer que chorei porque, apesar de saber que muita gente maltrata, esquece e abandona, sem um tremor de consciência, os seus velhos, doentes e gastos, ainda me surpreende, ainda me revolta e desatina, a maldade, a frieza, a selvajaria de que o ser humano, dito civilizado, é capaz!
A minha filha amadrinhou uma cadela rotweiler rejeitada e meio doente e adoptou a cadelita, pilha-galinhas e marota, que iria ser morta a tiro! Agora, já tem um lar, nunca mais vai ter de roubar para sobreviver, vai à escolinha, aprender a ser uma dama e chama-se Kayla!
Eu não posso adoptar nenhum animal porque já tenho quatro lindas "filhas" quadrúpedes e, agora, duas encantadoras "netas"! Mas, vou ajudar, como madrinha, a mãe husky, agradecida e a filha desconfiada, até que alguém as queira e lhes ofereça um lar e muito carinho e uma outra, que, de tão traumatizada, ainda não pode sair do abrigo mas, um dia, vai ter um lar e uma família que a ame!
Reparei que alguns animais, de tão exaustos, de tão sofridos, já não reagem ao alegre desassossego que as visitas provocam naqueles que ainda não perderam a esperança de uma vida melhor!
Na Cerca, há muitos cães abandonados, lindos, meigos e ansiosos que alguém os adopte e lhes dê a alegria de se sentirem queridos!
Se eu pudesse, adoptaria todos! Porque, no geral, todos vêm ter connosco à rede, abanam a cauda, meneiam as cabecitas, encostam o focinhito para nos sentir o cheiro e fixam-nos, com aquele olhar todo feito de tristeza, ansiedade e profunda solidão, um olhar meigo e líquido que é, simultâneamente, uma súplica pungente e uma terna promessa:
"Leva-me contigo, cuida de mim, ama-me e eu ser-te-ei eternamente grato, entrego-te o meu coração e amar-te-ei para sempre!"


"A Cerca" - Geral - 968699785 - cerca.abrigo@gmail.com

"A Cerca" - Adopções - 960392452 - cerca.adoptar@gmail.com

Foi com muita alegria que fiquei a saber que a cadelinha rotweiler está quase bem de saúde e já foi adoptada!

MC