segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

De Profundis: Anorexia e pétalas de rosa

Estou confusa! Isto parece ser um velório! Isto é um velório! Há muitas rosas brancas, orquídeas, círios, uma Cruz enorme e uma urna a transbordar de seda e tule brancos! Cheira a velas, a flores e a lágrimas.
Não sei porque estou aqui, neste velório.
Comigo, estão muitos colegas meus e muitos professores. A minha professora de Português, a Drª Maria Emília, chora muito. No entanto, estão todos tão entregues a si próprios, que não me vêem, nem me ouvem!

O que estará a fazer aqui, o meu irmão? Meu Deus, como chora! Estou a seu lado, abraço-o, passo-lhe a mão pelo cabelo loiro e macio mas, ele continua sentado no banco duro, de madeira, a cabeça apoiada nas mãos e chora baixinho.
Deve ter sido alguém da Escola que morreu! Por isso, estou aqui! Mas, quem teria morrido? Perante o choro, tão sentido, do meu irmão, lembrei-me da Francisca, a namorada que ele adora mas, para meu espanto, ela acabou de entrar e abraça-o, com infinito cuidado, como se ele estivesse muito doente ou, como se, subitamente, se tivesse tornado delicado e frágil, como uma peça preciosa de cristal.

Ali, ao canto está o João, o rapaz por quem me apaixonei perdidamente, com o encantamento do primeiro amor e a insegurança e o lirismo dos meus dezasseis anos!
Um dia, na cantina, vi-o quase a desfazer-se em pranto, por ter tido uma negativa muito baixa, a Matemática. Aproximei-me dele e tentei desdramatizar aquele erro de percurso e dar-lhe coragem para não deixar que um pai, muito severo e extremamente exigente, o desmoralizasse!
Quando uns colegas nossos, nos viram juntos, meteram-se com ele e disseram-lhe, a rir, que eu era perfeita, para ser sua namorada! A sua gargalhada escarninha, o olhar meio enjoado, meio piedoso que me lançou e o “Não!”, que lhe escapou, quase gritado, rápido, dos lábios, envergonharam-me terrivelmente e magoaram-me profundamente!

Nessa noite, despi-me e olhei-me, criticamente, ao espelho. Angustiada, tive de admitir que era, de facto, uma rapariga desinteressante e nada bonita! A minha cara era muito redonda, com bochechas balofas e luzidias. Os meus braços eram fortes, muito roliços e as minhas ancas e pernas pareceram-me muito volumosas, flácidas, feias! Não tinha sequer cintura mas, um rolo carnudo, enrolava-se, à minha volta, como se fosse um cinto e começava a ter uma barriguinha que tremelicava de gordura!

Eu era, na verdade e para meu infinito desgosto, muito diferente das outras raparigas, bonitas, soltas, esguias, minhas amigas e colegas da escola, que tinham sucesso com os rapazes.

Já estava habituada a que me dissessem que estava a ficar demasiado rechonchuda, até a minha mãe me pedia que não comesse tantos doces e, embora, não gostasse que me falassem na minha imagem corporal, nunca me tinha preocupado tanto, nem nunca me tinha sentido tão infeliz, como nesse dia!

Decidi, nesse momento, sozinha, no meu quarto, fazer uma dieta a sério!

Comecei a beber muita água, para enganar o estômago e acalmar a ânsia de comer! Comecei a cortar o pequeno almoço, o lanche e a não tocar nos farináceos, nem nas gorduras. Só comia sopas batidas, cozidos, grelhados, iogurtes magros, alimentos dietéticos e alguma fruta, essencialmente, maçãs e ananás. Tudo mastigado vagarosamente, cuidadosamente!
Depois, ao almoço, comecei a “ter de ficar na escola”. O mais difícil, foi, realmente, arranjar muitas e variadas desculpas para evitar as refeições em família. Punham-me à frente, tudo o que eu mais gostava e os olhos de lince da minha mãe seguiam todos os meus movimentos à mesa! Por isso, muitas, muitas vezes, fui a festas e jantei com amigas que faziam anos...
Fazia muito exercício físico, às vezes, quase até à exaustão! Agora, já não posso...

Em meses, tinha perdido muito peso, continuo a perder peso mas, nunca deixei de me sentir pesada, inchada, enorme!

A comida repugna-me! Ao princípio, ainda ía comendo, depois, fingia que comia e escondia o que podia, nos bolsos ou, no lenço, quando ninguém estava a ver, para depois, deitar fora. Tornei-me hábil e manhosa!
Tomava medicamentos para não engordar, que me davam forças e energia mas, como não me ajudavam a emagrecer tanto quanto desejava, recorria, como recorro ainda, aos laxantes. Às vezes, como então, tenho uma vontade louca de comer este ou aquele petisco, este ou aquele bolo mas, controlo-me e bebo água.

Agrada-me este controlo que tenho sobre mim e sabe-me bem a abstinência a que me forço! Gosto de me sentir limpa e vazia por dentro!

Estudava muito e tinha notas muito altas! Queria ser a melhor, em tudo! Ultimamente, já não consigo! Estou muito cansada!
Mas, continuo a querer dominar, controlar tudo, sobretudo, controlar os desejos do meu estômago, quando me pede, insistentemente, gulodices e as comidas de que eu gosto!
Dizem-me que estou a perder peso, em excesso e que já tenho os ossos quase à mostra e as veias salientes. Mas, eu continuo a ver-me pesada, enorme! Por isso e para esconder os refêgos de gordura, que se vão amontoando, em mim, uso roupa larga!
Vejo-me ao espelho e sei que não tenho graciosidade nenhuma, nem encanto, nem leveza!
Um elefante a dançar a valsa, seria, talvez, mais elegante do que eu a deslocar-me, de um lado para o outro, com as minhas banhas a tremerem, como gelatina!

Nos meus sonhos mais róseos, eu vejo-me linda, leve, deslizante, quase etérea, como uma sílfide! E, é assim, que eu irei ser! Um dia!

Quando atingi os trinta quilos, internaram-me, no hospital!
Foi a maneira mais suave que os meus pais encontraram para me dizerem que não gostam de mim e estão fartos de me aturarem! Ninguém, aliás, gosta de uma rapariga volumosa, balofa e feia!
Tenho a pele seca e fina que, mesmo assim, eu esfrego muito bem, com sabonete, para que nem uma ponta de gordura me possa conspurcar!
Já não tenho menstruação há uns meses e os meus braços, pernas e costas estão cobertos de uma penugem, que, dizem, se chama lanugo, que eu escondo com a roupa larga que gosto de usar!
O meu cabelo está mais fino e muito menos farto mas, não é a pele, nem o cabelo, nem o lanugo, nem a amenorreia, que me preocupam!
Os meus pais discutem muito, por minha causa, eu sei, e parecem sofrer cada dia mais, especialmente a minha mãe, sempre tão bonita e elegante mas, a perder, rapidamente, o viço e a alegria! E, eu sem saber o que fazer por eles!
Também, não entendo muito bem porque se afligem e se afligiram, sempre tanto, com a minha dieta!
Numa biografia da Sissi, a linda e elegantíssima imperatriz da Áustria e rainha da Hungria, cujos vestidos ainda hoje são um espanto, pela cintura tão delicada e fina que manteve até à morte, conta-se que, quando foi assassinada, aos sessenta anos, ela tinha muitos dias, em que só comia uma laranja. Eu como mais: duas maçãs ou, duas fatias de ananás e um iogurte magro com alguns cereais!

No hospital, tenho conhecido muitos jovens com anseios iguais aos meus mas, alguns horrorizam-me porque persistem, teimosamente, numa dieta de que já não necessitam pois, são já pele e osso, com os olhos enormes, nem sei se vazios ou, meio alucinados, os braços e as pernas cheios de manchas arroxeadas, e fazem-me lembrar aqueles meninos, completamente desnutridos, da Somália mas, sem as barrigas enormes, grávidas de nada, grávidas de falta de tudo!
Há uma rapariga, que me faz muita impressão, porque até cospe a saliva! Para não se sentir conspurcada!

A vida no hospital, não é fácil! Querem que “façamos as pazes” com a comida! Não quero! Custou-me muito chegar aos trinta quilos, para agora deitar tudo a perder! Não! Nem um grama, nem uma caloria, nem um bocadinho de gordura vai entrar dentro de mim!
Não quero voltar a sentir aquela sensação de enfartamento e de sujidade, como quando me obrigaram a comer uma colher de arroz, um pedacinho de peixe e uma folha de alface!
Só fiquei bem, quando, às escondidas, vomitei tudo!

Tenho medo de começar a comer e nunca mais ser capaz de parar! Sei lá...!
E, depois, esta abstinência a que me obrigo, esta sensação de limpeza e de esvaziamento, dão-me um imenso conforto!


Continuo no velório! Ouço, num grupo de professores, a minha professora de Inglês, dizer: “Que pena! Ela era tão inteligente, tão ansiosa por saber! Poderia ter ido tão longe!”
O João, rodeado de colegas nossos, com os lindos olhos humedecidos de lágrimas dizia, que eu ouvi, quando passei por eles:” Eu gostava tanto dela! Era tão engraçada, tão boa colega, tão amiga! Vou sentir muito a sua falta!”
Tenho de saber quem é esta “ela” de quem todos falam! Quem será esta “ela” por quem o João chora e de quem vai ele sentir, assim, tanta falta?
O meu irmão continua sentado no banco duro, de madeira, os olhos chorosos, a cabeça baixa. A Francisca está a agarrá-lo, ansiosamente, quase furiosamente, como se receie o perigo iminente de ele cair do banco abaixo!

Neste momento, entram os meus pais. Meu Deus, como estão diferentes, parecem ter envelhecido muitos anos, os rostos exaustos, devastados!
Fui direita a eles para os abraçar e consolar mas, imersos na sua dor profunda, uma dor muito deles, não me vêem, nem me ouvem!. Que estranho é isto tudo! Parece que estou a viver a irrealidade paralisante de um tremendo pesadelo, do qual, por mais que me debata, não consigo acordar!
Indiferente às minhas carícias e à meiguice das minhas palavras, a minha mãe aproxima-se da urna, agora quase coberta de rosas brancas, que se vão começando a desfolhar, e um rio de lágrimas desaba sobre quem ali descansa!
Por quem chorará, assim, tão aflitivamente, a minha mãe? O meu pai não chora, não se aproxima da urna, nem da minha mãe, que mal se segura de pé! Não fala com ninguém! Parece de pedra! Ali está, ao canto, tão cansado, tão desligado, tão ausente! Nem sei de qual dos dois tenho mais pena!
Mas quem é aquela “ela”, por quem todos choram?

Aproximo-me da urna envernizada e olho, atentamente, para quem ali repousa. Vejo um pequeno volume, envolto em sedas e tules brancos, quase afogado em rosas brancas que se vão desfolhando com o calor e, entre tules e pétalas de rosa, vejo um rosto emaciado, magro, a pele esticada sobre os ossos, e as mãos esqueléticas, com os dedos entrelaçados, entre os quais, o João prendeu um pequenino bouquet de orquídeas brancas! Pelo menos foi o que ouvi a Teresa dizer, há pouco!
O rosto não me é estranho... Na verdade, é vagamente parecido com o meu... Mas, eu tenho a cara redonda com bochechas balofas e luzidias!
Sobre o rosto imóvel, de cera, ainda escorrem as lágrimas da minha mãe e parece que é a morta que chora!

De repente, lembro-me...
Tinha andado, há uns tempos, a sentir-me muito triste, muito angustiada, muito deprimida e a Andreia deu-me, a meu pedido, uns comprimidos, daqueles que nos fazem sentir melhor. Tomei-os e adormeci! Tenho a vaga ideia de um alvoroço estranho, à minha volta, de ouvir rodas a chiarem enquanto me levavam, às sacudidelas, para uma sala branca e fria e de ouvir uma voz que, na altura, reconheci, dizer:” Fica connosco, Rita! Fica connosco, querida! Por favor, Rita, fica comigo! Vamos perdê-la! Estou perdê-la! Perdi-a!”

Depois, senti-me cair... cair, sobre um colchão branco, enorme, feito de nuvens macias e fofas. Pareceu-me ouvir vozes, muito ao longe, um leve adejar, à minha volta e o som, lindo, ciciado, do Bolero de Ravel que adoro e que ouço, incansavelmente!
Lembro-me de, nesse momento, me sentir muito bem! Relaxada, calma, liberta! Depois, mais nada...!

Surpreendida, compreendi, enfim!
Sou eu que, branca, imóvel e finalmente tranquila, entre tules e pétalas de rosa, descanso ali! A minha luta, sem quartel, contra o excesso de peso e a comida, terminou! Nem mais um grama, nem mais uma caloria, nem mais um bocadinho de gordura, vão entrar dentro de mim! Nunca mais!

Porque, serenamente, morri, esta madrugada!

Como diria Sartre, “ les jeux sont faits” ! Sinto uma imensa e fantástica indiferença descer sobre mim e afastar-me, irremediavelmente, de todos e de tudo!
Mas, estranhamente, não me importo!
Aprisionada, perdida, nos tentáculos poderosos, dessa gélida indiferença , esqueço os meus afectos, as minhas alegrias, os meus dramas e os meus medos! Numa absoluta solidão!
Para sempre...!


(A Abstinência - Virtude)

( Neste caso, acima referido, a Abstinência doentia, levada ao exagero)

MC

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A Gula e... a Vida!


Pão de Ló húmido... de Chocolate


Ingredientes
4ovos
6gemas
200 grs de açúcar
130 grs de farinha
80 grs de chocolate



Preparação

Misturar as gemas com os ovos e o açúcar.
Bater bem, durante aproximadamente, 25 minutos. A meio ligar o forno a 250º.


À medida que juntava os ingredientes para, passado tanto tempo, fazer, de novo, este bolo, a sua vida de casada, foi-se desenrolando, perante ela, como um filme, onde ela era a estrela principal! Dizem que acontece o mesmo com os afogados: nos breves minutos que antecedem a morte, perpassa-lhes, nítida, na memória, os pedaços bons e os pedaços maus da sua vida, que se esvai!
Dizem, ainda, que, por isso, os afogados choram, quando dão à costa! Dos olhos, sem luz, escorrem lágrimas, com cheiro a desespero e a morte, no momento em que alguém querido se aproxima. Talvez, por não terem tido tempo de se despedir, de pedir perdão ou... de perdoar.

Este era o bolo predilecto do marido.

Ao princípio, nos primeiros anos de casados, faziam-no, a quatro mãos. Era uma festa, um arraial, um enlevo e uma canseira depois, com a cozinha, numa perfeita desordem, também limpa pelos dois, quando, enfim, o Pão de Ló húmido... de Chocolate, ficava pronto!
Era, então, que o cheiro doce, guloso, vibrante, quase erótico do chocolate, inundava toda a casa

Ele separava as claras das gemas e ligava o forno.

Ela sabia que, nesse momento e sem poder esperar mais tempo, também ele, a arder de amor e de desejo, agarrava-a, abraçava-a, beijava-a nos lábios, no pescoço, nos seios, excitado e guloso , como se, também, ela fosse chocolate macio e, com as mãos, a tremer, em frémitos de gula, ele percorria-lhe o corpo bonito que cheirava a juventude, a morango e a baunilha. E, ela deixava-se perder, suspirando baixinho, como se, por magia, se tivesse transformado em chocolate quente, aveludado, derretido, entre os lábios e as mãos dele, a taça com os ovos e o açúcar, esquecida no balcão da cozinha...

Com o tempo, era ela que fazia o Pão de Ló húmido... de Chocolate, o doce predilecto dele, agora feito a duas mãos, as dela, porque o ritmo dos dias era outro!
Mas, a alegria, o prazer com que ele o comia, era o mesmo e fazia-a rir, a sua fingida surpresa, quando a via pousá-lo na mesa!
Depois, abraçava-a, beijava-a e percorria-lhe o corpo, com a sofreguidão, a gula, de um faminto ou, saboreava-a, devagar, ternamente, como se fosse ela o seu chocolate crocante, mais doce, mais precioso e raro!

À parte, misturar a farinha com o chocolate em pó.
Quando terminar de bater, juntar ao creme de ovos, a mistura de farinha e chocolate, peneirados.


Durante anos, ela continuou a fazer o bolo húmido e apetitoso, a casa inundada com o cheiro sensual, quase lascivo, do chocolate morno mas, a atitude dele foi-se tornando diferente: às vezes, só provava. Para não engordar, dizia.
Ao princípio, os dois tinham sido um só, que o fio da vida enrolava na mesma cadência. Depois, com o tempo, com as dificuldades que íam surgindo, cada um era um, que a vida ía enrolando, enrolando, afastando e... sorvendo, em separado!
Nasceram as filhas e o trabalho era tanto que ela não tinha sequer tempo para fazer o Pão de Ló húmido ... de Chocolate e ele também já não perguntava pelo seu doce predilecto!

Mexer, delicadamente, a mistura.

A casa cheirava, agora, a leite, a pó de talco, a lápis de cor, a cadernos, a ballet, a flores e, se calhar, ao profundo cansaço dela!
Ela estava, realmente, cada vez mais cansada, com o trabalho profissional, com o arranjo da casa, que fazia sozinha, com os cuidados com as filhas que cresciam e precisavam tanto da sua atenção!
Enquanto mexia, suavemente, a massa aveludada, recordou o Domingo em que ela lhe confessara que, com as despesas que tinha, não podia pagar a uma empregada mas, estava tão exausta que, o que mais queria, era alguém que a ajudasse!
Insensível, rude, quase mau, ele dissera-lhe que quem não tem dinheiro, não tem vícios!
Ele estava a reconstruír uma casa enorme, que era o seu sonho dourado, feito de pedra e, ao qual tinha todo o direito, e ela devia sentir-se orgulhosa, trabalhar e não se queixar!


Untar com manteiga uma forma sem buraco e forrar com papel vegetal também untado e deitar a massa.


Uma noite, ao jantar, ele disse-lhe que tinha de ir a Londres, com uma cliente e o cunhado dela, para tratar de um assunto de heranças.
Enquanto ía untando a forma, ela recordou o cuidado com que lhe prepara a mala ! Recordou os post-its que tinha colado no casaco do pijama, “ Dorme bem, querido! Boa noite!” e os que colara nas duas camisas “ Bom dia, querido, que tudo corra muito bem! Aqui estou à tua espera, cheia de saudades!”
À noite, ele telefonara e ela perguntara.”Onde estás?” “No hotel. Vou dormir.” “ Não vais passear por Londres, à noite? É tão bonita!” Não, estou cansado!”
E, ela, tranquila e crédula, foi também para a cama, com as suas meninas, que cheiravam a inocência, a sabonete e a pó de talco Johnson.! Radiantes, mergulharam as três, num sonho lindo, perfumado e colorido, enfeitado com estrelas prateadas, rosas amarelas, e açucenas, e com cheiro a chocolate, a baunilha e a framboesas!

Nesse momento, lágrimas de revolta, de raiva e de fúria, grandes, pesadas, como punhos, rolaram-lhe pelo rosto, como um pequeno rio de mágoa.
Apeteceu-lhe atirar com a forma ao chão mas, conteve-se! Não seria, assim, tão primária! Nunca se perde a compostura, tinham-lhe ensinado, em criança!
Afastou-se, no entanto, da taça, mesmo ao lado, para que o Pão de Ló húmido...de Chocolate, não ficasse amargo e ainda mais húmido, com o rio cristalino das suas lágrimas!
Como pudera ser tão burra? Como pudera ser tão ingénua? Como pudera ser tão estúpida?
Uma menina grande mas tonta, a escrever bilhetinhos a um homem mentiroso e empolgado por outras experiências, por técnicas de sedução que ela nunca conhecera!

Quando regressou, ele trouxe-lhe um perfume “ Caleche” da marca elegante e, então, bastante exclusiva, “Hermès”. Surpreendida, perguntou-lhe: “Escolheste este perfume sozinho?”; “Não, a menina da perfumaria ajudou-me!”
Mesmo para as filhas, os eternos peluches eram diferentes dos habituais ursos.
Surpreendeu-se mas, depressa esqueceu as suspeitas! Não era ela que afirmava, perante o espanto e a risonha incredulidade das amigas, que, não só poria as mãos, no fogo, pela fidelidade do marido, como se lançaria toda, na fogueira?
Até um dia...!

Levar ao forno, a 230º, durante 10 minutos.
Findo este tempo, reduzir para 150º e deixar ficar mais 5 minutos.


Ele estava diferente há muito! Tudo o irritava nela, em casa, nas filhas! Não tinha tempo para nada, nem mesmo para as festinhas do colégio, a que não ía ou, se se dava ao trabalho de ir, chegava no fim!
Um dia, ela confrontou-o com a verdade: “Tens ou tiveste uma amante!”;
“Tive!” “ A tua cliente, com quem te lambuzaste, em Londres?”; “ Sim, mas acabou tudo, há muito tempo! Como soubeste, só agora?”; “ Desde há muito tempo, que te sinto diferente e distante! Mas, sabes, nem quis acreditar! Fiz como a avestruz e ignorei! Agora tenho recebido chamadas telefónicas esquisitas! Já não dá para fazer de conta! Como foste capaz?”; “ A culpa foi tua! Só pensavas no trabalho e nas filhas!”

Aquela cruel e cobarde injustiça, sob a forma de uma desculpa esfarrapada e insultuosa, foi a punhalada final, como a estocada de misericórdia que o toureiro dá ao touro, depois de lhe ter infligido um longo e tremendo martírio, na arena!
Foram dias e dias, semanas e semanas de luta titânica. Consigo mesma! Sozinha!

Ele nunca lhe pediu desculpa, mas, jurou que só a amara a ela! Sempre! Disse-lhe que tinha um bombom em casa e perdera tempo com um rebuçado velho e azedo!
Voltou a ser o rapaz terno e atencioso, com quem casara.
Agora tinha uma empregada a tempo inteiro! Raramente cozinhava e jantavam fora frequentemente.
Oferecia-lhe tudo: roupas caras, como ela nunca vestira, jóias, produtos de beleza caros, perfumes, que ela escolhia e viajavam muito! Ela ía aceitando...
Tinha sido demasiado tempo de esquecimento de si mesma!
Tudo o que ele, agora, lhe dava, era-lhe, simplesmente, devido! Tout court!
Ofereceu-lhe mesmo um perfume, “ In love again”, de Yves Saint Laurent. Era um símbolo de recomeço, dizia ele!
Agora era ele, o tonto! Ela detestava os perfumes de Yves Saint Laurent! Para ser honesta, experimentou-o! Deitou-o fora!
Deixá-lo, para quê? Tinha duas filhas que precisavam do amor e da presença dos dois, para terem estabilidade emocional e, ( porque não dizê-lo?), estabilidade financeira. E, não podia esquecer que estava muita tristeza sua, muita renúncia, muita solidão, muito trabalho seu , muito suor, enterrados, naquele sonho de pedra, em feitio de casa!
Sentia-se velha, exausta! Mas, foi procurar forças, lá no mais recôndito de si e impôs-se!
Um laço forte, fortíssimo estava, contudo e para sempre, destruído, desfeito, desatado!
Pediu-lhe, muitas vezes, para voltarem a fazer o Pão de Ló húmido... de Chocolate, a quatro mãos! Tentou, uma vez mas, não conseguiu! Sentiu um constrangimento insuportável! Ele percebeu e não insistiu! Por vergonha, talvez!
Ou, estaria, de novo, a ser ingénua?

Retirar do forno e desenformar quando estiver arrefecido>

Também ela tinha arrefecido...
Perdoara? Ela julgara, sinceramente, que sim! Mas, como perdoara, se não esquecera? Perdoar é tremendamente difícil, quando esquecer é impossível! E, é tão exasperante a incapacidade de esquecer a dor da traição, a náusea da mentira e o desespero da confiança destruída!
Amava-o ainda? Não sabia! A paixão acaba e o amor transforma-se! Sempre!
Agora era, talvez, amizade, carinho e... hábito! Resignação, nunca!
Resignar-se é estagnar, é deixar-se morrer, crucificada na agonia lenta da submissão, do desalento, da desesperança!
E, ela impusera-se! Cedera, é certo, mas era ela, agora, que dominava, no jogo da vida, a dois!

Era tempo de tirar o Pão de Ló húmido...de Chocolate, já arrefecido, do forno!

Ele fora em trabalho a Lisboa e pedira-lhe para que fosse com ele! Ela sabia que era trabalho mas, poderia ser passeio, se ela quisesse e sabia, também , que ele não voltara a prevaricar. Mas, não foi com ele!
Deu uma desculpa e ficou em casa, a fazer o doce predilecto dele! Para ele...?
Faziam hoje trinta anos de casados! Seria possível?
De manhã, a florista entregara, em casa, um lindíssimo cesto, com trinta rosas vermelhas, e com um cartão, muito terno, do marido!

A ela, apetecera-lhe fazer aquele bolo que, de uma certa maneira, guardava, em si, o registo do seu casamento!

Ficou alguns minutos a olhar para para aquela massa ressumante, de chocolate...
Que fazer-lhe? Comê-lo, não! Agora, enjoava-a e, de resto, a dieta não o permitia! Dar à empregada? Não, que pensaria ela? Deitá-lo fora? Também não! Há muita fome no mundo! Seria um pecado!
“Bem, veremos!” pensou, com um sorriso.

A Teresa tinha-a desafiado para irem, com a Camila, ao cinema, ver “ A dúvida” e depois jantarem, num restaurante da Foz.
Aceitaria o desafio ou...não?
Estava, de qualquer modo, a fazer-se tarde. Subiu ao quarto, tomou um banho, vestiu-se, maquilhou-se ligeiramente e penteou-se. Deixou cair, sobre si, um chuvisco delicioso de Chanel nº 5.
Viu-se ao espelho e gostou do que viu!
Era ainda uma mulher bonita, atraente, elegante e bem conservada, apesar de tanta amargura e tanta canseira!

Tocaram à campainha. O coração disparou...
Desceu as escadas a correr! Seria a primeira vez...
O cheiro doce, guloso, vibrante, quase erótico, do chocolate quente, inundava toda a casa...
Respirou fundo, deu um jeito à blusa de seda e abriu a porta.
O rosto bonito iluminou-se num sorriso e os olhos verdes, brilharam, com a cor e a doçura das folhas tenras e orvalhadas, nas madrugadas macias e transparentes de Verão...
“Entra!”, disse docemente.

Quando retirar do forno e poucos minutos depois, o Pão de Ló húmido... de
Chocolate, vai perder o aspecto bonito, tufado e fofo ! Vai baixar. É normal...


MC
( A Gula - Pecado Mortal)

O Escritor e as Palavras

Um Escritor não tricota com palavras! Ele escreve e cria!
Mas, se quisesse, deveria ser muito fácil, para ele, tricotar textos lindos, com sentido ou, até mesmo sem sentido, mas sempre, extraordinariamente belos! Em Prosa ou em Poesia! Um Escritor conhece profundamente as palavras, escuta-as, ama-as, esgrime com elas! E elas falam-lhe, confiam-lhe segredos, cantam e riem só para ele! São caprichosas, mimadas e difíceis, as palavras! Às vezes, também se zangam, gritam, choram e fazem birra!

O Escritor, no entanto, entende-as, acarinha-as e perdoa-lhes os caprichos porque são parte da seu mundo e elas, que não têm vida sem ele, como se, cada uma delas, fosse Mulher, deixam-se mimar perdoar e amar!

Quando o Escritor se retira para o mundo fantástico das palavras, escolhe-as, brinca com elas, junta-as, separa-as, rejeita-as, mistura-as, a seu gosto e, como se uma fada o tivesse especialmente fadado, tem, dentro de si, esse dom mágico, raro, que lhe permite criar as obras literárias, do nosso deslumbramento, transbordantes de talento, luminosas, enriquecedoras, perfeitas!

MC
( O Escritor e as Palavras)

Tricotando com Palavras

Tive, na Faculdade, um professor escocês que, a conselho psiquiátrico, tricotava longas tiras de malha, quando tinha de ficar parado, isto é, enquanto vigiava frequências ou exames.
Fascinava-me a rapidez incrível com que tricotava e o ponto certinho, que quase tranformava aquelas tiras de malha, lindíssimas, em obras de arte, de leveza e perfeição!
Muitas vezes dei comigo a pensar para que serviriam aquelas longas tiras de tricot, cada qual de sua cor. Até que, decidi que deviam ser cachecóis!
Não sei fazer tricot mas, não resisto ao desafio de tentar tricotar uma longa tira de palavras., não sei ainda como mas, com certeza, nunca com a beleza da malha certinha, do meu professor escocês!

Neste meu tricot, as palavras são os meus novelos e a esferográfica e depois, as teclas do computador, as minhas agulhas.
As palavras são preciosas, como jóias antigas! Mas, também são flexíveis e, deixam-se modelar, vestir, colorir e perfumar por aqueles que as amam e fazem delas, fonte inesgotável, de criação!
Assim sendo, as palavras respiram a vida, tomam a forma, vestem-se da cor, compõem a música e exalam o perfume, que o Escritor quiser!
Mas, não sei se vou saber tricotar com elas! O meu professor, aqui a meu lado , sorri e diz-me que sim...

Na esteira de Cesare Pavese, que escreveu a frase “ o mar parece azeite”, escrevi, um dia, que “o mar parece um oleado ondulante e pardo”. Não é aquele, nem este mar que quero tricotar! Não tenho novelos esverdinhados e viscosos como o azeite, nem tenho novelos pardos como um oleado!
Prefiro aquela massa líquida, imensa, translúcida, de um azul profundo, salpicado de luz, que não quero rematado por espuma mas, por gatinhos brancos, pequenas bolinhas de pelo, que saltitam, rebolam e brincam contentes e libertos da dor de pensar, como o gato de Fernando Pessoa.
Estes gatinhos, só meus, não brincam na rua, brincam na areia, também, como se fosse na cama e, sem molhar as patinhas felpudas, são a mais bela cercadura viva, para esse mar do meu encantamento
E, no meu vestido azul, enfeitado de veludo branco, que me fica tão bem, eu tricoto
esse mar magnífico, com os meus novelos azuis, bordados a fio de prata e com os
meus novelos brancos, cansados de tanta brincadeira! E, à medida que se desenrolam osnovelos e as malhas se entrelaçam, enroscam-se, ternamente, no ar, a música deliciosa, sorridente de Mozart e o perfume, suave e macio, dos lírios do campo, da lavanda, da alfazema e do tomilho.


Mas, logo a seguir, desce a noite gelada e tempestuosa e o mar é, agora, um abismo imenso, negro, rasgado por relâmpagos que ziguezagueiam e se despedaçam nas vagas encapeladas, violentas que batem fortes, em furioso turbilhão, contra as rochas e açoitam, endoidecidas, a areia serena e branda. E, a música poderosa de Wagner, que traz consigo laivos de vermelho que lembram sangue e que lembram guerra, irrompe das profundezas desse abismo aterrador, com o cheiro a raiva, a vingança, a sal e a algas.
E eu tricoto esse mar com as palavras pesadas, assustadoras que são os meus novelos de escuridão e de pesadelo!
Foi muito penoso tricotar este mar, de vagas enormes, a ribombar, alterosas.
Enganei-me no ponto e deixei caír malhas, como lágrimas.
Estou cansada e encolho-me, com frio, no meu vestido escuro, com laivos vermelhos
que lembram sangue e lembram guerra.


Mas, a noite tempestuosa esvai-se e o dia nasce...
E, na claridade límpida e serena da madrugada, o mar que vejo, é azul cristalino,com pinceladas de cor-de-rosa, salpicado de ouro e vai-se aproximando, devagarinho, timidamente, num marulhar feito de ternura e de amor, ao encontro da areia dourada, fina, macia e húmida que o espera, também ela, témula e ansiosa. E o mar, num redemoinho de emoções, com o coração aos tropeços, o cor-de-rosa agora feito o vermelho da paixão, espraia-se nela e, cobrindo-a com um rendilhado delicado de espuma, qual renda de bilros, abraça-a, beija-a e sussurra-lhe inconfessáveis segredos, envolvendo-a nas suas ondas mansas, para logo se fundirem num abraço de luz!
Depois, na languidez preguiçosa, apaziguada, do amor saciado, ele deixa-se ficar, a revoltear, junto dela, numa suave ondulação.
E, eu, no meu vestido azul claro com pinceladas de rosa e de vermelho, vaporoso e, quase translúcido, tricoto com os meus novelos macios, a fio de luz entrelaçados, este mar enamorado e a areia, sua amada! Deles emergem, suavemente, a doçura de “Für Elise” de Beethoven, e o doce e envolvente perfume das rosas e do jasmim e o cheiro delicado e pensativo das gardénias.



O tempo muda e o mar reflecte o céu que, de repente, ficou cinzento e agora quase, mas quase, esverdinhado, viscoso e pardo. Este é o mar gélido, desolado dos náufragos, dos suicidas, do desespero e da loucura!
E, eu, no meu vestido cinzento, opaco e feio, tricoto este mar de infelicidade, de vidas violentamente interrompidas, esse mar onde repousam sonhos em pedaços, projectos destroçados, farrapos de Esperança perdida, com os meus novelos cinzentos, baços, e tristes e neles, agora, é Chopin que chora baixinho e cheira a velas e a flores murchas, apodrecidas! Como os afogados, como os sonhos desfeitos, como os projectos, para sempre, apenas projectos, como os farrapos de Esperança destroçada!
Esgotou-me, tricotar este mar a cheirar a morte e a podridão!



É tempo de voar, reencontrar a alegria de viver e de correr, ansiosamente, atrás do
sonho de voltar ao ponto de partida!
Mas, chorosa, deparei-me com um mar de luto. Um mar estranho que me enjoou, que me provocou a agonia do vómito e dos suores frios, quando o cheiro horrendo da fome mais negra, da doença sem remédio, da miséria mais pungente, da guerra mais impiedosa, me atingiu, em cheio, como uma bola incandescente!
Não sei tricotar este mar! Não vou tricotar este mar! Não quero tricotar este mar!
Então, com o poder imenso, fantástico, quase divino das palavras feitas novelos de lã, modifico este mar e transformo-o numa toalha imensa, esplêndida, cheia de cor e de luz, com um remate de espuma que é, afinal, uma sumptuosa renda de Bruges, que estendo sobre uma mesa infinita, agora alegre e farta pois, sobre ela há inesgotáveis alimentos e remédios, uma imensa solidariedade e uma forte e terna fraternidade! Para que não haja fome, nem doença, nem miséria, nem guerra!
E, eu tricoto esta toalha maravilhosa com os meus novelos amarelos, vermelhos, azuis, cor de laranja e verdes e deles brota a música sensual da kizomba, e o som agreste e excitante, dos batuques, e deles, brotam também os cheiros fortes, tropicais, da vegetação exuberante, do abacaxi, do maracujá, da papaia, do coco e o cheiro a barro, consolado da terra vermelha, depois da chuva!
E, tricoto, ainda, com os meus novelos, agora, endiabrados, carregados de erotismo e desejo, os corpos negros, lascivos, suados, que se agitam indomáveis, em frémitos de prazer e de paixão, ao ritmo inquietante e frenético dos batuques!


As palavras, meus novelos feiticeiros, conferem-me, ainda, com o seu poder mágico, quase divino, a possibilidade singular de criar, só para mim, um espaço de maravilhosa fascinação, neste mar africano.
Não vou pôr no mar, em seu lugar, um relâmpago, como fez Luís Miguel Nava. Os
relâmpagos são brilhantes, belos e poderosos mas, assustadores!
Também não vou pôr no mar, em seu lugar, um vasto campo de miosótis pequeninos e
azuis, onde eu pudesse dançar, solta e descalça, ao som de uma melodia belíssima,
fantástica, que o mar compusesse, só para mim, como fiz um dia!
Não! No lugar do mar, vou pôr um mangal, sem mosquitos, transbordante de encanto e de romantismo, com flamingos cor-de-rosa, só meus, acácias em flor, só minhas e uma cascata imensa, cristalina, cheia de luz e brilho, a brotar, deslumbrante, entrelaçada numa vegetação magnífica, vestida de verde de mil matizes, também, só minha!
Um mangal só meu, para me encantar, para me libertar, para me encontrar e nunca mais me perder! De mim!
E, eu, envolta em panos coloridos, artisticamente traçados sobre o meu corpo, modelando-o, com os meus novelos que escorrem beleza e magia, num delírio de cores e ofuscantes de luz, tricoto este mangal de fantasia, onde ressoam os batuques, a kizomba e, onde paira, provocante, o cheiro fresco mas, atrevido, das acácias em flor!


É espantoso, como este desenrolar dos meus novelos mágicos ora, luminosos e coloridos ora, baços e escuros, trouxe, de volta, até mim, depois de tanto tempo, o meu professor que aqui esteve comigo, em amena conversa, enquanto tricotei, com palavras, esta longa tira de escrita que, nem sequer pode ser um cachecol bonito, fofo e perfeito como os seus!
Já arrumei o meu texto tricotado.
O meu professor escocês já se despediu, e, como é um cavalheiro, limitou-se a sorrir e a dizer-me, docemente: “ My dear, don`t worry! It`s just a question of practice!”
Mas, lá no fundo, penso que lhe fez uma certa confusão, este meu tricot lento, desajeitado, com ponto incerto e malhas caídas!

MC

Poema tricotado

Sinto-te, procuro-te, chamo-te,
Revejo-te e não te vejo...
Há quanto tempo é assim?
Diz-me, amor, porque não sei,
Como te perdeste... de mim!

Recordo o teu olhar macio,
Nas estrelas, a fio de luz,
Bordadas...
Revejo-te e não te vejo...
Há quanto tempo é assim?
Diz-me, amor, porque não sei,
Como te perdeste... de mim!

Escuto a tua voz e o teu riso,
Na rua, no campo, nas serenas
Madrugadas...
Revejo-te e não te vejo...
Há quanto tempo é assim?
Diz-me, amor, porque não sei,
Como te perdeste... de mim!

Sinto-te, procuro-te, chamo-te,
Revejo-te e não te vejo...
Há quanto tempo é assim?
Diz-me, amor, porque não sei,
Como te perdeste... de mim!

MC
( A Paciência; a Perseverança)