domingo, 11 de agosto de 2013

Textos pequenos escritos em momentos longos...

Há mulheres que trazem em si a infinitude clara e límpida dos oceanos e, nessa imensidão, misteriosamente, sempre azul e transparente, as almas exorcizam-se,  purificam-se, renovam-se...

 Eu sou aquela que se debruça, atrevida, nos teus dias!
Eu sou aquela que assombra, insubmissa, a tua memória!
Talvez ainda não saibas, mas eu sou o teu amanhecer, a tua noite, o teu mar, o teu chão, o teu alumbramento, a tua saudade...
Eu sou ela!

 Sei o que fiz com as palavras que brotaram das minhas mãos e cresceram na folha branca, como as flores coloridas e singelas que enfeitam os prados, nas manhãs macias de Verão. Com elas, escrevi-te frases soltas, líricas, luminosas, e cartas magoadas, turvas, sobressaltadas, compus poemas, sem préstimo, sem rima e sem fulgor! Que nunca recebeste...
Sei o que fiz com as palavras que amassei nesta lonjura de ti!
Só não sei o que fazer com o negrume denso, vazio, atordoado, do teu infatigável silêncio...

Porque o caminho é duro, tortuoso e, por vezes, fustigado por violentas tempestades, os pés doem, a alma dói, as lágrimas esgotam-se. Porque o caminho é íngreme, pedregoso, e é preciso furar o nevoeiro que se vai adensando e espreitar o escuro, viver, muitas vezes, cansa, esgota...

 Umas palavras descobrem-se, outras, sim, inventam-se! Descobertas ou inventadas, todas as palavras têm um peso: umas têm o peso delicado de um raio de luz, outras o peso pungente da saudade, outras ainda têm o peso festivo da alegria e do encontro, outras o peso sublime da música, outras o peso exausto da solidão. Mas, as mais dolorosas são as que têm o peso esquivo mas insuportável das palavras nunca ditas...
Aquelas que nunca te disse e carrego na alma...

Como esqueci aquele amor “eterno”?
Aquele beijo desajeitado, mágico, vegetal?
Aquele olhar verde profundo, inocente, fixo na claridade líquida do meu olhar?
Mas, o amor, como a tempestade súbita, furiosa, passou...
A vida sossegou, certa e ritmada...
Como tocam os sinos, certos e ritmados, na torre da igreja.
E quem se lembra do primeiro amor?
E quem se lembra da magia do primeiro beijo?
E quem se lembra da pureza daquele primeiro olhar, que se cruza e se dilui na mesma luz?
E quem se lembra do fragor do temporal, quando o sol brilha resplandecente?
Hoje, não sei porquê, lembrei-me...
Talvez porque nunca tenha esquecido...

Quando as palavras se revolvem, se enleiam, se aninham, quebradiças, transparentes, líquidas e se perdem, sem rumo e mudas, num atordoamento sôfrego, é porque as palavras não bastam... Ou, talvez, sejam de mais...
Escuta, meu amor, escuta o abismo incendiado do meu silêncio.

 Cada chegada traz sempre consigo a angústia velada, furtiva da despedida.
Como a vida que nos é oferecida, já embrulhada na maciez do papel delicado e fino, de uma tristezinha mansa e insidiosa...

 Chegáste... tanto tempo demoráste. Tanto, que pensei ter-te perdido! Chegáste e, em ti, descansam, enfim, o meu coração alvoroçado, os meus anseios ardentes, os meus sonhos adiados.
Contigo, a minha vida é, de novo, chama viva, incêndio, reencontro e perdimento...
Em ti, descansa a infinitude dos meus dias...

Não, velha não! Entardecida, sim! Antiga, talvez... Mas, não sei se foi a vida que se demorou, se fui eu que me perdi na urdidura apertada e confusa dos caminhos... Talvez tenha sido eu que me demorei e a vida, como um rio que não pára nem recua, foi passando indiferente, calada, solene e eu, aturdida, arrebatada e sedenta, nem sequer tenho dado por ela a passar por mim...

Ainda que a Eternidade seja breve, meu amor, quero um abraço eterno... que seja infinito agora!,

MC