segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O Fado

“Portugal é um país que canta o oceano”

Li esta belíssima frase hoje. Disse-a uma americana para definir o Fado! E, talvez, esta seja a mais bonita e completa definição do nosso Fado, agora Património Imaterial da Humanidade!

A dolência do trinar das guitarras, a saudade, a ausência e o sentimento triste da perda que o Fado canta, talvez venha das grandes e perigosas viagens por mares nunca dantes navegados, embaladas pelo Sonho e fustigadas por tormentas desabridas, pelo medo tremendo, temperado por uma incontrolável atracção pelo Desconhecido!
O Fado talvez tenha nascido dessa distância marítima, do querer ser grande e dar novos mundos ao mundo, e também, do anseio de voltar a casa, o coração morto de saudade, mas quantas vezes, ficar esse desejo esmagado, perdido, nas profundezas do oceano infinito.
Talvez tenha nascido da amargura e da desolação de um retorno impossível, pois, regressando, já ninguém encontrar na casa abandonada, em ruínas. Tendo as gentes terminado as suas viagens, talvez antes de tempo. Tendo o Tempo, implacável, devastado tudo!
Talvez , a canção deste povo marinheiro, sedento de aventura, por esses mares além, venha daí!

O Fado canta a vida e o que é a vida senão uma viagem, umas vezes, bonançosa, outras vezes, acidentada, feita de encontros inesperados, de despedidas constantes, de desencontros doloridos?
E, imersos na saudade, no vazio da ausência, na lonjura da distância, vamos fazendo a nossa viagem, vamos cumprindo o nosso fado, mesmo sem nunca o oceano atravessar.
Talvez seja porque, afinal, haja na vida muito deste verso bem fadista: “Tudo isto é triste, tudo isto existe, tudo isto é FADO”!

MC

2 comentários:

José Almeida da Silva disse...

Gostei muito deste seu texto. Ajda a compreender a dimensão da poética da memória nostálgica que é o Fado - a viagem que cada ser traz dentro de si. No fundo, a viagem que fazemos de vinda para voltarmos à fonte.

Um abraço.

A desalinhada disse...

Obrigada, querido Amigo! Por me ler, por comentar o que escrevo, por me dar alento para continuar. O Zé é uma pessoa fantástica, um Amigo presente, mesmo na ausência. Abraço grande e grato.