domingo, 29 de abril de 2012

Se eu fosse flor...

Se eu fosse flor, seria papoila. Rubra, esguia, vibrátil.
Pétalas macias, sedosas. Singelas.
Hastes quebradiças a balançar, arrebatadas, ao vento.
Papoila a crescer, a esmo, em todos os cantos. E a insinuar-se, atrevida, nos loiros trigais.

Seda e linho.
Vermelho e ouro.
Sangue e lume.
Sol e Lua.

Mulher.
Amante e amiga.
Amada... talvez.
Tenho segredos. Como nuvens brancas, de Verão.
Recantos de silêncios... com a leveza do vento brando, com a fúria da tempestade desfeita..
Espaços infinitos de azul, onde vagueiam sonhos.
Tenho canteiros de risos e socalcos de dor. E lagos de lágrimas.
E prados verdes de Esperança... Com cheiro a lavanda e a tomilho.

A papoila rubra, com estames longos, como cílios, também tem um segredo.
Pecaminoso. Letal.
Que esconde, amarfanhado, numa inquietude.
Coração de rubi. Aflito.
Segredo, mistério... só revelado, quando colhida.
Corola cortada, esmaecida, seda preciosa, esfiapada.
Papoila rubra, gelo e incêndio, usa veneno, em vez de perfume.

Se eu fosse flor, seria papoila. A balançar, arrebatada, ao vento.
Rubra e vibrátil.
Lume e sangue.
O meu veneno?
Serias tu.

MC

3 comentários:

A desalinhada disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
SC disse...

Lindo,lindo!!! Gostei muito!

José Almeida da Silva disse...

Um belíssimo poema de amor! A transfiguração é riquíssima. Ressalta a dor pensada, trazendo das entrelinhas um cheirinho a Pessoa. Tantas sensações à flor do texto num entrelaçamento do divino e do humano - decorrem da papoila símbolo da beleza, da delicadeza e da fragilidade. Assim, o Amor!

Gostei muito. Parabéns.