Talvez ainda não saibas, mas eu sou o teu amanhecer, a tua noite, o teu mar, o teu chão, o teu alumbramento, a tua saudade...
Eu sou ela!
Só não sei o que fazer com o negrume denso, vazio, atordoado, do teu infatigável silêncio...
Porque o caminho é duro, tortuoso e,
por vezes, fustigado por violentas tempestades, os pés doem, a alma dói, as
lágrimas esgotam-se. Porque o caminho é íngreme, pedregoso, e é preciso furar o
nevoeiro que se vai adensando e espreitar o escuro, viver, muitas vezes, cansa,
esgota...
Como esqueci aquele amor “eterno”?
Aquele beijo desajeitado, mágico,
vegetal?Aquele olhar verde profundo, inocente, fixo na claridade líquida do meu olhar?
Mas, o amor, como a tempestade súbita, furiosa, passou...
A vida sossegou, certa e ritmada...
Como tocam os sinos, certos e ritmados, na torre da igreja.
E quem se lembra do primeiro amor?
E quem se lembra da magia do primeiro beijo?
E quem se lembra da pureza daquele primeiro olhar, que se cruza e se dilui na mesma luz?
E quem se lembra do fragor do temporal, quando o sol brilha resplandecente?
Hoje, não sei porquê, lembrei-me...
Talvez porque nunca tenha esquecido...
Quando
as palavras se revolvem, se enleiam, se aninham, quebradiças, transparentes,
líquidas e se perdem, sem rumo e mudas, num atordoamento sôfrego, é porque as
palavras não bastam... Ou, talvez, sejam de mais...
Escuta,
meu amor, escuta o abismo incendiado do meu silêncio.Contigo, a minha vida é, de novo, chama viva, incêndio, reencontro e perdimento...
Em ti, descansa a infinitude dos meus dias...
Não, velha não! Entardecida, sim! Antiga, talvez... Mas, não sei se foi a vida que se demorou, se fui eu que me perdi na urdidura apertada e confusa dos caminhos... Talvez tenha sido eu que me demorei e a vida, como um rio que não pára nem recua, foi passando indiferente, calada, solene e eu, aturdida, arrebatada e sedenta, nem sequer tenho dado por ela a passar por mim...
Ainda que a Eternidade seja breve, meu amor, quero um abraço eterno... que seja infinito agora!,
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