Chove…
Hoje ,uma vez mais, o céu abriu-se …
Ferida funda, ferida aberta, de onde jorram, em torrente
incontida, todas as lágrimas do mundo…
Um choro turvo, exausto, infecto.
Este foi um Outono antecipado, que se tem mantido tristonho,
chuvoso, atravessado de trovoadas fortes, assustadoras.
Um Outono alagado, desgrenhado, decadente!
Onde está a estação lilás, das sonatas de Bach, das cores
profundas, opulentas, os vermelhos, os amarelos, os castanhos de mil matizes,
que são ouro, que são fogo, são volúpia e que os poetas cantam?
Onde estão os poentes de fogo, onde existem todos os sóis,
enseadas de luz onde nos perdemos e onde nos encontramos?
Cansa-me este Outono de luz baça, suspensa, coada por nuvens
cinzentas, pesadas, tempo de
desencantada decadência, fogo frio, o compasso de espera para o silêncio
penumbroso, gelado, do Inverno...
Cansa-me a plangência chorosa deste Outono viúvo, antes de
tempo, de um Verão que deveria ter sido uma explosão de ouro, de luz, chama
ardente, esplendorosa, que não chegou a ser...
Anseio pelos dias de luz, de calor, de flores, de céu azul e
de pássaros em alegre revoada, para, tranquila, recostada na maciez aveludada,
voluptuosa do tempo, eu poder, enfim, descansar o meu cansaço…
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