terça-feira, 4 de novembro de 2014

Kayla


Encontrei-te,  por  acaso,  num abrigo, “A cerca”, e nunca mais tive sossego enquanto não te resgatei e te trouxe para casa comigo.
Eras uma cadelinha de pelagem clara, porte elegante, com cerca de dez meses/um ano, arraçada a Husky. Tinhas uns olhos lindos, de um azul, translúcido, precioso, que se fixaram em mim, não como quem pede abrigo, mas como se já soubesses que serias parte da minha vida.
Vivemos sete anos juntas, Kayla. Deste-me tanto amor, tanta ternura e, também, tanta gratidão! Mas, era eu, Kayla  querida,  que te estava grata por tanto que recebia de ti!

No dia 17 de Agosto, apareceu o primeiro sintoma da tua doença. Parecia um pequeno derrame num dos teus olhos, de um azul translúcido, precioso, mas era muito mais do que isso! E, começou uma dolorosa Via Sacra… Começou a tua luta titânica contra uma doença inesperada, terrível, implacável! Uma luta que acompanhei impotente, com o coração em farrapos.
Foste uma lutadora, uma guerreira infatigável, Kayla! Só depuseste as armas quando, no dia 4 de Outubro, o Dr. André, devagarinho, com a alma carregada de compaixão, te ajudou a adormecer no morno aconchego dos meus braços e a partir, serenamente, para lá de toda a lonjura.

Amei-te muito Kayla! Não sei se te amei como devia, mas amei-te! E amo-te!
E, porque te amo, choro todos os bocadinhos de tempo que tu, com os teus olhos de um azul translúcido, precioso, fixos em mim, me pedias e que eu não te dei,  porque não tinha tempo…
Choro as brincadeiras que não brincámos juntas e que te teriam dado tanta alegria, porque  tinha pressa…
Choro os abraços e afagos que me querias dar e eu não recebi, porque era tarde e estava atrasada... Para ir ali, para ir acolá…
O tempo não pára e, na pressa dos dias, eu, tantas vezes, não reparei  na maravilhosa dádiva que era a  infinita ternura que guardavas só para mim…

Depois, Kayla,  subitamente  adoeceste e eu nunca mais tive pressa. Tinha todo o tempo para ti! E, havia tempo para tudo! E, não houve, Kayla querida, não houve tempo para nada!!

Quando, à noite, o sono não vem e a minha alma se despenha numa tristeza mais funda, imagino-te a correr linda, liberta, feliz, por prados infinitos, inundados de luz… Uma luz azul, translúcida, preciosa, como os teus olhos.
E eu, Kayla, enquanto a vida me der tempo, sei que continuarei a correr atrás do tempo que, impiedoso, não te deu mais tempo e corre mais do que eu, não abranda, não espera…

Com amor.
MC

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