segunda-feira, 26 de abril de 2010

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Coimbra – julho de 1843

(DIAS, Gonçalves. Canção do Exílio. In: FACCIOLI, Valentim; OLIVIERI, Antônio Carlos. Antologia da Poesia Brasileira: Romantismo. 9.ed. São Paulo: Ática, 1999. p.26.Série Bom Livro)

Nota - Lanço aqui este belíssimo poema, a propósito de um conto delicioso "A menina de lá", do escritor brasileiro Guimarães Rosa

MC

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