segunda-feira, 19 de março de 2012

A ti, Pai...

A ti, Pai, hoje e sempre, porque todos os dias são teus.

A ti, Pai, porque tantas vezes, como agora, é para ti que o meu pensamento voa, a minha alma se ajoelha, reverente, perante a tua e eu te agradeço e te bendigo!

A ti, Pai, porque foste, em cada um dos meus dias, a minha âncora, o meu porto de abrigo, a luz-guia dos meus passos! Antes, agora, sempre!

A ti, Pai, que não foste um santo, um filósofo ou um poeta, mas talvez tenhas sido tudo isso, sem ninguém saber. Nem mesmo tu!

A ti, Pai, porque este dia é teu e esta noite sonhei contigo e fomos juntos, lá para onde só a alma e a memória podem ir, onde somos livres, o céu é sempre azul, as flores não perdem o encanto, nem o perfume e tudo tem a cor cristalina do teu espírito!

A ti, Pai, porque nunca nos dissemos Adeus!

A ti, Pai, porque só se diz Adeus quando o Amor acaba e o fim é, então, inevitável, definitivo, irreparável!

A ti, Pai, porque só se diz Adeus, quando o laço visceral, feito de sangue e de afecto, permanece intacto e tu continuas comigo, pois, sobre o coração e o pensamento, ninguém, nada, nem mesmo a morte, tem qualquer poder!

A ti, Pai porque não se diz Adeus, quando sabemos que, em termos de Eternidade, vinte, trinta ou quarenta anos de separação, não são mais do que dois, três ou quatro segundos deste tempo que contamos!

A ti, Pai, porque não se diz Adeus, quando o rasto claro, límpido, brilhante da tua luz é ainda o caminho que percorro!

A ti, Pai, este poema de Jorge Reis-Sá, porque não sou Poeta e ele diz o que eu não sou capaz de dizer e porque não sei fazer um poema só para ti.

A ti, Pai, hoje e sempre, porque todos os dias são teus e a minha sombra és tu.

Pai, a Minha Sombra és Tu

Tua cadeira está vazia, um corpo ausente
não aquece a madeira que lhe dá forma

e não ouço o recado que me quiseste dar
nem a tua voz forte que grita meninos
na hora de acordar
ouço o teu abraço, no corredor em gaia
e os olhos molhados pela inusitada despedida

o sol foge
mas o crepúsculo desenha a sombra que
tenho colada aos pés
ou o espelho, coberto com a tua face

pai, digo-te
a minha sombra és tu


Jorge Reis-Sá, in "A Palavra no Cimo das Águas"

MC

1 comentário:

José Almeida da Silva disse...

Que bela homenagem, esta! Traz à luz do coração um excelente caminho de afetos estruturantes da vida do espírito, e faz-se um belo poema de memórias e de saudades, gratas. A sombra fez-se luz, e no coração pousou, tenho a certeza, a sustentável leveza de um universo onde só cabem a luz e o desejo de ser também luz - o Tu e o Eu.

A sombra, só no poema de Jorge Reis-Sá!

Parabéns por este canto ao santo, ao filósofo, ao poeta de tantos afetos e caminhos inacabados, cuja foz é a liberdade.