terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Pequenas divagações sobre esplendorosa Poesia...

Lembra-te de mim quando a ausência de nós dois escurecer o teu dia... Quando um eco de saudade "retroar" em ti, lembra-te que te amei e lê o que escrevi para ti...

Apesar de, é bom sentir o coração em chamas. Apesar de, ainda aconchego este coração incendiado, no desconcerto do peito. Apesar de, guardo a tua lembrança, num recanto de sombra da minha memória. Apesar de, a claridade da manhã rompe o véu infinito da noite. A vida vale a pena ser vivida inteiramente, intensamente, apesar de...

Quando a manhã afaga o meu rosto, despenteia os meus cabelos, é a delicadeza de Deus a tocar a meu dia...

Tu és a ausência mais funda, eu sou a alma mais solitária, mais nua, mais fria... Tu, a ausência... Eu, a solidão...

Como todas as vidas, a minha vida tem sido vendaval desfeito e brisa branda; tem sido onda gigantesca e renda ondeada a desmaiar, lângida, na areia; tem sido jardim incandescente e terra árida, queimada; tem sido luz e tem sido sombra e, ainda hoje, não sei por onde vou, mas, sei, que não vou por aí, por onde queres que eu vá...

Na frecura leve, intocada de cada madrugada, eu renasço, eu estremeço, eu volto a ser inteira...

Os poetas entendem os idiomas das árvores; os poetas sabem de todas as canções do vento, que as folhas cantam só para eles; os poetas guardam, na alma, todos os perfumes do Sol, todas as carícias da chuva branda, mas é com as suas lágrimas, com o seu sangue e no tumulto das suas emoções, que eles escrevem a sua Poesia...
E, eu... eu sou o passarinho à toa que esvoaça, feliz, um pouquinho entontecido, na luz bendita, dos seus poemas...

Há caminhos que só a alma conhece, que só a alma trilha, sem tempo e sem distãncia...

Como foi possível, Florbela, não gostares do sol, tu que tinhas, arrecadada em ti, toda sua luz de ouro, toda a cintilação das estrelas, todo o brilho, toda a incandescência desse teu génio singular? Como foi possível deixares-te enredar no negrume triste da noite mais densa, quando tu, Florbela, foste, na vida, um luzeiro imenso, amotinado, ardente? Essa borboleta doida, estranha, que te inquietava, Florbela, era talvez esse teu coração a bater, em sobressalto, como haste quebradiça, no desacerto do teu peito...

Em todas as vidas, como em todas as conchas vadias, que as ondas rendadas levam, há um interior escondido que nos silencia e nos aquieta...

Os flamingos, no seu voo alto e livre, carregam consigo o Sol e bordam, com os seus fios de ouro, o tempo, esse tecido invisível, subtil, perfeito, que nos submete e aprisiona...
 
Coração que nunca endurece é coração de santo; temperamento que nunca pressiona é temperamento de anjo; toque que nunca magoa só o toque da Tua Mão...
Mas, Tu estás sempre tão distante... tão ausente...

Eu sou a árvore nua e ressequida e tu a chuva mansa que a renova e a faz florir...

É bom voltar ao lar, ao anoitecer, quando nesse lar bate aquele imenso coração que nos ama, nos acolhe, nos conforta, nos aquece...
 
MC

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