terça-feira, 13 de setembro de 2016

A Avó


 Se “o primeiro filho dá à luz a Mãe”, no dia 11 de Junho, o João fez nascer a avó que hoje sou.

Foi um nascimento emocionante, profundamente feliz, mas não surpreendente. Afinal, ser avó, é uma extensão de ser mãe, no encantamento, na alegria, mas sem a ansiedade “da primeira viagem”, sem o deslumbrante espanto da descoberta do sentimento intenso, sublime da Maternidade.

Como a Mãe, a Avó sabe que prende nos braços o Mistério, a Poesia, o Infinito. A Vida!
E embala sonhos, tantos sonhos, que costura, num bordado intrincado, com fios de horizonte, de luz e de ternura.

Como a Mãe, também a Avó é redonda e lisa, sem ângulos agudos, sem bicos inesperados, sem asperezas.

No dia 11 de Junho, nasci Avó.

Apenas uma nuvem ligeira, mas teimosa, atravessa os dias bonitos que correm lá fora: a noção sinuosa da escassez de tempo, do meu tempo. Esse delgado, infatigável fio de areia a cair, a cair, na ampulheta da vida, que arrasta consigo esse abismo insondável de solidão e de silêncio.

O tempo não me irá, talvez, dar tempo de ver terminado o bordado, tecido de luz e de sonhos, já tornados realidade, mas fica-me a certeza que o João terá sempre alguém, a seu lado, para o amar, proteger e ensinar.

Alguém que descerá à nascente mais funda e será Rio, onde ele possa refrescar a alma das atribulações da vida; alguém que descerá ao centro do fogo e será Tocha ardente, para lhe iluminar os dias; alguém que descerá ao mais gélido Inverno e será Lava incandescente, para derreter a neve e lhe alisar o caminho: a MÃE.

MC

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