domingo, 29 de maio de 2011

Um poema ao Sul, um poema mais ao Norte

Hoje, apeteceu-me bincar aos poetas. Assim sendo, aí fica o meu "Diário mais ao Norte", um arremedo do poema de Adília Lopes, " Diário lisboeta", publicado no Público, a semana passada.
Espero que a Poeta Adília Lopes, mulher inteligente, de mente aberta e com um coração imenso, não se zangue comigo!


Diário lisboeta

1 de Abril de 2011, 6ª feira
Vi um cão abandonado.
2 de Abril de 2011, sábado
Vi dois papagaios verdes no alto de um choupo.
3 de Abril de 2011, domingo
Vi uma rosa cor-de-rosa no quintal do 14.
4 de Abril de 2011, 2ª feira
Arrumei o casacão no guarda-fato.
6 de Abril de 2011, 4ª feira
A Bé gostava de ter um macaquinho.
9 de Abril de 2011, sábado
Quero escrever frases, tagarelar e dançar.
Gosto de solinho. Ver o barómetro.
10 de Abril de 2011, domingo
Descomplicar.
A Leonor tem roupa à janela

Adília Lopes

Diário mais ao Norte

2o de Maio de 2011, 6ªfeira
Resgatei, da rua, um cão abandonado.
A Íris, a minha collie melre, fez um ano.
21 de Maio de 2011, sábado
Vi o pôr-do-sol, o céu em chamas e caminhei na praia.
À noite, o mar enfeitou-se de prata. A lua estava cheia.
22 de Maio de 2011, domingo
Colhi duas rosas vermelhas e vi um sapo, no jardim.
Fiz um bolo de chocolate e comi cerejas.
23 de Maio de 2011, 2ªfeira
A Nani deitou fora as canadianas e calçou sapatos de salto alto.
Vesti o vestido branco. Já me esqueci da roupa de inverno.
25 de Maio de 2011, 4ªfeira
O Gui gostava de ter um cãozinho.A mãe não deixa.
Mas, vai ter. Um, talvez, dois. Um dia. Na casa dele.
28 de Maio de 2011, Sábado
Quero ler o jornal, ir às compras e passear.
Adoro o sol. Está calor. Amanhã também.
29 de Maio de 2011, domingo
Descansar. Preguiçar, preguiçosamente, ao sol.
A Xana nunca tem roupa à janela.
Só um mar colorido de gerânios em flor.

MC

11 comentários:

José Almeida da Silva disse...

Adília Lopes jamais se zangaria! Embora um pouco mais extenso, o seu poema segue o mesmo modelo estrutural e termina também de forma inesperada. Não lhe faltam metáforas inusitadas, e a ironia atravessa o poema em todas as direcções. É, de facto, um poema-diário. Mais a Norte. Que também tem poetas e poetisas. De qualidade.

«Só um mar colorido de gerânios em flor.», à janela, é de mestre!

Parabéns.

A desalinhada disse...

Obrigada, Zé, querido Amigo!! O meu astral fica tão alto, mesmo lá junto às estrelas, com os seus comentários!! Já alguma vez lhe disse que no seu coração também se espraia um mar colorido de Bondade e de Amizade? O Zé, sim, é um Poeta de requintada qualidde! Mais a Norte! Abraço.

Pentacúspide disse...

falo por mim, realmente não entendo a poesia hoje, aliás, a arte no geral. eu pessoalmente não chamaria a esse texto de poesia, Adília me desculpe... mas que sei eu?
hoje até uma prescrição farmacêutica pode ser poesia.

A desalinhada disse...

Pois é, Pentacúspide! Por isso é que me atrevi, ousei, tive coragem, para tentar fazer uma "coisinha" parecida!! Porque Poeta, eu, decididamente, não sou!!! Mas gostei de brincar com as palavras, como se a Poesia habitasse em mim...

Pentacúspide disse...

Ah, és tu e a Adília a mesma pessoa?

A desalinhada disse...

Não, Pentacúspide! Eu sou a desalinhada que, num desalinho, escreveu o "Diário mais ao Norte", isto é, o segundo diário, seguindo a estrutura do "Diário lisboeta" da Adília...

Pentacúspide disse...

Ah boa, sou lerdo mas chego lá. i got it.

A desalinhada disse...

Não, Pentacúspide, lerdo é que tu não és! E, para que conste, gosto muito dos teus comentários!

A desalinhada disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
SC disse...

Está muito giro!!..Gostei tanto!uma brincadeira linda com as palavras,numa remoinho electrizante de sensações e imagens...
Disso é exemplo o "só um mar colorido de gerânios em flor".Muito bem!

Pentacúspide disse...

A desalinha, quero convidar-te para leres este blog um ponto, e uma vígula., particularmente o comentário de artigo aqui, e dizeres se gostarias de participar na brincadeira. Podes responder-me por cá, ou pelo meu mail, está no meu perfil, um sim ou um não.