terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Será isto ..., Democracia ?

Tinha jurado a mim mesma que , desta vez, não escreveria sobre nenhum tema político .
Aliás, a política deste Governo é tão medíocre, tão narcisística, que já enjoa e cansa .

Mas, no Sábado passado, Sua Excelência, o Primeiro Ministro, acompanhado da «distinta» Ministra da Educação e seus «insignes» secretários de Estado , recebeu, na sede do Partido Socialista, algumas dezenas de professores, ali, filiados , vindos de vários pontos do país, a fim de os «ilustres» governantes «ouvirem as opiniões dos professores da base socialista» e debaterem as reformas, em curso, na área da Educação !

Foi esta escandalosa e discriminatória decisão do Primeiro Ministro que, num país dito democrático, se prestou, acintosamente, a receber uns e, ostensivamente, ignorar outros, que me levou a quebrar a promessa que, a mim mesma, tinha feito !
Será correcto, Sócrates só querer ouvir os professores socialistas, Partido a que preside, sobre as reformas na Educação ? E, os outros ?
Os problemas de uns, não são os problemas de todos ? As opiniões dos outros não são tão importantes e cruciais como as dos camaradas de ideologia política ?

Será isto, Democracia ?
No dicionário que Sócrates, certamente muito amiúde, consulta, Discriminação e Democracia serão sinónimos ?

Uma dúvida, porém, surgiu neste turbilhão de imagens e ideias, que assombram o meu cérebro :
Teria Sócrates, realmente, querido ouvir opiniões e debater as reformas, em curso, com os seus confrades, ou, astutamente, pretendeu, honrando-os com esta especial atenção e a sua «real» presença, dissuadi-los de contestarem e, dando-lhes importância, convencê-los a impedir qualquer tipo de contestação à aberrante política do seu Governo, na área da Educação ?

Ao entrar na sede do seu Partido, Sócrates foi, mais uma vez, fortemente, vaiado! Indignou-se e disse que nunca tinha visto tal movimentação, em tantos anos de Democracia !
E, a política do seu Governo, que faz o que quer, como quer, quando quer, sem ouvir ninguém, nem Sindicatos, nem os directamente interessados, será Democracia ?
A «notável» Ministra da Educação e seus «acólitos» não foram alvos de uma vaia monumental, porque, corajosos e íntegros como são, entraram, como ratos, fugidios, por uma porta lateral !

Depois da conversinha íntima, com os seus camaradas, o Primeiro Ministro afirmou que as medidas postas em cima da mesa - Avaliação dos Professores e o Novo Regime de Gestão das Escolas - eram mesmo para avançar, garantindo que, contra ventos e tempestades, o Governo e o Partido prosseguirão com as linhas e desígnios políticos traçados !Os professores socialistas, escandalosamente, sublinhe-se, presentes na reunião, estarão, quiçá, contentes e esperançosos, com o que se tem estado a passar nas escolas ! Os outros, aqueles que recusam qualquer favorecimento, não !!

Será isto, Democracia ?

Que fique bem claro : os professores não temem, não recusam, nem nunca recusaram, ser avaliados !
O que os docentes contestam, convictamente, é serem avaliados por outros colegas, seus iguais, alguns dos quais, pedagogicamente, muito inferiores, só porque esses detêm o cargo que lhes permite avaliar ; insurgem-se contra os parâmetros do modelo da avaliação; não aceitam, com razão, as quotas vergonhosas, que limitam as melhores notas; revoltam-se, fortemente, contra o facto de serem culpabilizados pelo abandono escolar e, indignam-se, desesperadamente, contra a aberrante deliberação que faz a sua avaliação incidir e depender das classificações que atribuem aos alunos !

O Primeiro Ministro, quero crer, não será tão pouco perspicaz, tão obstinado, que não tenha já percebido que a Reforma na Educação e o que vai acontecendo nas escolas, é um calamitoso desastre, um desvario, uma perfeita loucura, um projecto infeliz concebido por uma Ministra prepotente e autoritária, aparentemente, destituída de visão, de competência e de uma qualidade muito importante: bom-senso !

O Primeiro Ministro, quero crer, não será tão pouco inteligente, que não saiba que, sem os professores, principais agentes do ensino, marginalizando-os e tratando-os com arrogância e rudeza, como tem vindo a acontecer, nada, mas nada de positivo pode ser feito na Educação !

O Primeiro Ministro, quero crer, não será tão cego, que não tenha reparado já que a Ministra, cujo rosto rigído, frio e inexpressivo assusta o próprio susto, fechada no conforto gostoso e seguro do seu gabinete, determina, do alto da sua pungente ignorância, porque não está no terreno puro e duro do ensino , medidas que insultam docentes e os acorrentam horas e horas, improdutivas, diga-se, à Escola e os obrigam a um trabalho burocrático tremendo e cada vez mais penoso, que os esgota e lhes tira tempo precioso, para pesquisa e estudo.

A função do professor é e sempre foi, preparar aulas, ensinar e avaliar alunos com Saber, Competência, Exigência e Rigor !
Mas, saberá esta Ministra, intelectualmente indigente, o que isso é ? O que esta senhora quer, das escolas, é sucesso, muito sucesso e muitos diplomas que, no fundo, certificam coisa nenhuma ! Mas são valiosos para as suas famigeradas estatísticas !

Será, assim, em Democracia ?

O outro motivo de contestação, é o Novo Regime de Gestão das Escolas .
A figura do Director, na escola, vai ressurgir e será nomeado superiormente . Os docentes não vão estar, em maioria, em nenhum orgão de gestão escolar e o austero Conselho Pedagógico será uma amálgama de docentes, representantes disto e daquilo e, em muitas sessões, transformar-se-á, certamente, num divertido e interessante circo ! Uma feira de opiniões, vetos, murros na mesa e decisões, acidamente, temperada com os sorrisos triunfantes de uns, e as lágrimas e suspiros de outros !

A Direcção das escolas será, pelo rumo que o Governo tem tomado, entregue a «Boys» e « Girls», do Partido, os quais cumprirão, ansiosos e escrupulosamente, as ordens superiores, o que poderá criar,entre os docentes, conflitos perniciosos, um ambiente de desconfiança e intriga malévola e um clima de perseguição aos corajosos que se atreverem a contestar as ditas ordens .

Neste preciso instante, uma nuvem sombria perpassa leve e atravessa,maldosa, o meu pensamento :
Estaremos todos nós a assistir de palanque e sem darmos conta, a uma sinistra partidarização nas Escolas e no País ?

Será isto, Democracia ?

Enquanto fui escrevendo este longo post, veio-me à ideia, não sei porquê, um certo senhor, democraticamente eleito, num país Europeu, e o qual, como um polvo, foi, paulatinamente, estendendo os tentáculos, partidarizando todas as áreas e pondo, nos pontos nevrálgicos de todos os serviços, gente da sua estirpe e confiança, os seus «Boys» e as suas «Girls»!

Quando as populações despertaram de uma longa e profunda letargia, muitos seriam inocentes, já uma hecatombe medonha, sem nome e sem tamanho, se tinha abatido, fragorosamente, sobre uma Nação, indelevelmente, manchada de sangue e de lágrimas . E, os gritos de terror, de sofrimento e de morte de milhões de seres humanos, continuarão a ecoar, calados, através dos tempos .
E, essa gente que hibernara, confiante, durante anos, embalada pelas palavras assertivas e convincentes de um louco, cobria-se, nesse acordar de dor e de espanto, de luto, de horror e de vergonha !
Toda a tragédia que tinha começado, alegremente, em Democracia, terminou, em nome do bem-estar do povo, na mais infame e desumana Destruição !


M.C.

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