O Ramadão, o nono mês do calendário islâmico, começou, com a entrada da Lua, na fase de lua nova e é um dos cinco pilares do Islão.
Este é, para os islamitas, um mês santo, uma época de espiritualidade viva , de recolhimento e de profunda reflexão.
Precisávamos todos, nestes dias de turbulência, de um tempo assim, uma espécie de Ramadão, dedicado, ao nosso mundo interior.
Nesse tempo de auto-conhecimento, os nossos políticos, no geral, e os nossos governantes, em particular, poderiam e deveriam fazer uma profunda reflexão sobre o estado da Nação!
Os senhores detentores do poder deveriam, humildemente, reflectir sobre as esplendorosas promessas que agitam, sedutoras, como bandeiras de vitória mas que, sabem-no bem, são impossíveis de cumprir; deveriam debruçar a sua atenção, sobre a Escola Pública, ferida de morte pelo facilitismo, sobre a fraude que é o programa “Novas Oportunidades” e sobre o engano que são os Cursos Tecnológicos; deveriam, arrependidos, penitenciar-se pelo desastre que é o Serviço Nacional de Saúde, que tem vindo a ser, paulatinamente, destruído; deveriam pedir perdão pelo caos que grassa na Justiça, enfraquecida e descredibilizada pela montanha de processos que se arrastam pelos Tribunais e pela voragem de legislação, mal feita ou, feita sob medida; deveriam lamentar, amargamente, os milhões de Euros desbaratados e gastos em projectos, em seguida, postos de lado, para as obras públicas megalómanas, do nosso endividamento!
Num tempo assim, de auto-disciplina, de respeito e de serenidade, os nossos governantes deveriam, também, fazer uma profunda reflexão sobre o nepotismo, a corrupção, os favorecimentos ilícitos, as mentiras descaradas, os exílios dourados, já destinados a ex-membros do governo e as reformas de luxo de tantos!
Nessa espécie de santo Ramadão, quem nos governa deveria, ainda, reflectir sobre o ousado vitupério que é o auto-elogio, especialmente, perante a calamidade do desemprego galopante, das falências em catadupa, da miséria em crescendo, no país, e da vergonha e do desencanto de um povo cada vez mais pobre, cada vez mais triste mas, também, cada vez mais passivo e apático! Talvez, porque já nada pareça valer a pena!
No período conturbado e ruidoso de eleições que se aproxima, mesmo só uns laivos do espírito introspectivo, calmo, generoso do Ramadão, seriam altamente benéficos para o nosso cansaço!
MC
( Não publicado no JN! Obviamente!!)
Sem comentários:
Enviar um comentário