Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto
d’açucenas!
Escreve-me! Há tanto, há tanto tempo
Que te não vejo, amor! Meu coração
Morreu já, e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d’oração!
“Amo-te!” Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras
de boninas,
Um poema d’amor e felicidade!
Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Um poema d’amor e felicidade!
Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então… brandas… serenas…
Cinco pétalas roxas de saudade…
Escreve-me!
Inventa, para mim, uma flor esguia, de pétalas
aveludadas, com o perfume incendiado
das rosas vermelhas, que nunca me deste.
Inventa, para mim, uma claridade alada, onde se afunde a terna desmesura do teu
olhar quando se entrelaça com o verde, tenro e leve dos meus olhos. Inventa,
para mim, uma palavra ardente que, como uma rajada de vento, desperte o
braseiro deste amor amodorrado, no canto mais recôndito da alma! Escreve-me!
Há tanto tempo, que
não te vejo, não te oiço, não sei de ti. Mas. Às vezes, pressinto-te! Como se pressente a presença
invisível, mas quase táctil, de alguém muito amado que partiu, mas cujo
espírito permanece connosco...
Escreve-me! Um parágrafo, uma frase, uma palavra. Compõe, para mim, um verso doce e leve como a brisa branda, nas madrugadas róseas da Primavera. Mas, não. Não escrevas a palavra saudade. Porque. A saudade que conheço e me persegue, tem o teu rosto, tem o teu toque, tem o teu nome. A saudade, que me inquieta e me domina, tem o teu cheiro, tem o teu gosto, tem o teu sorriso. Não, não escrevas a palavra saudade. Tu és luzimento, júbilo, carícia. Tu és teia de seda onde me abrigo e me aconchego. A saudade é negrume, é amargura, é lágrima fria e baça.
É não estares aqui, que incomoda, caustica e dói. Mas. Não
sei, nesta hora em que te peço que me escrevas, não sei se foste tu que
partiste ou se, esquiva e frágil e a tocar já, o abismo da tua ausência, fui
eu, amor, que me perdi de ti!
Escreve-me
MC
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